EUA avançam com novas sanções contra a Síria
Irão acusa Trump de ajudar terroristas e diz-se pronto para qualquer eventualidade. Rússia enviou fragata para o Mediterrâneo
Nikki Haley, a embaixadora dos Estados Unidos junto das Nações Unidas, não tem sido parca em palavras no que diz respeito à Síria. Na sexta-feira à noite, numa reunião de emergência do Conselho de Segurança pedida pela Rússia por causa do ataque norte-americano contra uma base aérea síria, a diplomata afirmou que os EUA tinham dado “um passo muito ponderado”, mas que “estavam preparados para fazer mais”. Parte desse “mais” foi conhecido ontem, com o secretário do Tesouro norte-americano a anunciar para breve a aplicação de novas sanções à Síria.
“Esperamos que essas sanções continuem a ter um importante efeito em evitar que as pessoas façam negócios com eles”, declarou Steven Mnuchin, adiantando que planeia anunciar em breve sanções económicas adicionais contra Damasco como parte da resposta ao ataque químico levado a cabo pelo regime de Bashar al-Assad na cidade de Khan Sheikhun e no qual morreram mais de 70 pessoas.
Em janeiro, poucos dias antes de deixar a Casa Branca, Barack Obama endureceu as sanções contra a Síria em resposta à informação da Organização para a Proibição de Armas Químicas, de que o o governo de Damasco tinha usado armas químicas contra a população em 2014 e 2015. Estas sanções tiveram como alvo a empresa Organização para as Indústrias Tecnológicas, que os EUA dizem fazer parte do governo sírio e responsável por um programa de mísseis balísticos, além de 18 pessoas ligadas a esta empresa e a organizações militares.
O ataque dos EUA à base aérea síria vai ser o principal tema de conversa do encontro entre o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, e o seu homólogo russo, Serguei Lavrov, marcado para quarta-feira em Moscovo.
Esta reunião já havia sido anunciada pelos Estados Unidos há uns dias e a sua realização foi confirmada ontem pelo ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson, quando explicou o cancelamento da sua própria viagem a Moscovo, marcada para amanhã, naquele que seria o primeiro encontro entre os chefes da diplomacia de Reino Unido e da Rússia desde 2012. Johnson explicou que cancelou a visita por causa da situação na Síria, mas que Tillerson irá a Moscovo entregar uma mensagem “clara e coordenada” aos russos.
Na sexta-feira, o chefe da diplomacia de Moscovo, Serguei Lavrov, disse esperar que os laços EUARússia não fiquem feridos de forma irreparável pelo ataque norte-americano. Enquanto isso, uma porta-voz do seu ministério afirmou que o secretário de Estado norte-americano terá de dar explicações sobre o ataque de sexta-feira.
O Irão, outro dos aliados de Assad, já havia condenado o ataque dos EUA e ontem exigiu a criação de “uma comissão independente com a presença de países neutros sobre o alegado ataque químico”.
O presidente iraniano, Hassan Rohani, acusou Donald Trump de ajudar os “grupos terroristas” na Síria e afirmou que após a “agressão” norte-americana à Síria, o Irão deve “preparar-se para qualquer eventualidade”. “Não sabemos o que preparam os novos dirigentes americanos para a região”, disse.
A Rússia enviou na sexta-feira a fragata Almirante Grigorovich para se juntar à frota de, pelo menos, seis navios russos que estão estacionados no Mediterrâneo, junto à costa da Síria. A embarcação, que chegou ontem ao seu destino, está equipada com mísseis de cruzeiro Kalibr, o equivalente russo aos Tomahawk usados pelos EUA na sexta-feira. Novo ataque a Khan Sheikhun Horas depois do ataque norte-americano com 59 mísseis Tomahawk contra a base aérea de Shayrat, dois aviões sírios descolaram do local, informou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, o que leva a crer que o impacto do bombardeamento dos EUA foi reduzido. Os aviões Sukoi, de fabrico russo, partiram de Shayrat para efetuar uma incursão contra posições do Estado Islâmico, segundo o Observatório Sírio.
Esta organização não governamental anunciou ainda que aviões do governo de Damasco atacaram ontem a zona leste de Khan Sheikhun, a cidade alvo de um ataque químico na terça-feira, matando uma mulher.