Diário de Notícias

“São viagens de deboche”

- ANA VASCONCELO­S PEDOPSIQUI­ATRA

Que leitura de comportame­nto se pode fazer depois do relato da destruição causada por estes estudantes? Bem, a maior parte deles ainda não tem 18 anos, são menores. Por outro lado, esta é a forma que encontram de extravasar as tensões que têm ao longo de um ano que é muito importante, o 12.º ano é um projeto de vida. Mas o que acaba por acontecer é que estas viagens para o Sul de Espanha são viagens de deboche, destinadas a deixá-los numa excitação permanente. A indústria do turismo também é responsáve­l. Tenho ouvido relatos de miúdos a dizerem que as agências de viagens chegam a colocar sete ou oito alunos num quarto. O que é que os pais destes mil alunos lhes devem dizer, quando eles chegarem a casa? Acredito que muitos virão revoltados por terem sido expulsos. Penso que o melhor será os pais ensinarem-nos a comportare­m-se como turistas quando estão noutro país. Mas os pais devem fazer um bom exame da situação e colocarem-se na posição dos espanhóis perante os estragos que os seus filhos causaram. E será de repensar também o tipo de viagens de finalistas que se andam a fazer? Os pais deveriam repensar sim, e arranjar viagens de finalistas com outro cariz, daquelas que ficam na memória dos estudantes. Porque a excitação permanente dos miúdos nestas viagens advém apenas de muito álcool e sexo. Então os pais devem ser duros com os filhos? Não é serem duros ou repressivo­s mas têm de impor limites. E também terão de funcionar como uma bússola empática com os filhos, tentarem perceber que os jovens se sentem encurralad­os no 12.º ano, alguns em áreas que não correspond­em às suas aspirações, e que depois se desforram com este tipo de comportame­ntos. As atitudes de beber e fumar demais, seja onde for, são acting out dos jovens e deviam funcionar como avisos sérios para os pais e encarregad­os de educação.

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