Diário de Notícias

O lado B dos Olímpicos no tempo fotográfic­o de João Pina

Prémio. Fotojornal­ista vence Estação Imagem 2017 com série sobre o Rio de Janeiro e o investimen­to em grandes eventos desportivo­s

- MARINA ALMEIDA

Há um grupo de gente que vê o reluzente fogo-de-artifício no estádio olímpico do cimo de um morro; uma jovem acampada dentro de uma casa a ver a novela; um homem que refaz a cobertura de uma casa, com o Rio de Janeiro, longínquo, aos pés. João Pina é o autor de todas estas imagens, parte da série que o Estação Imagem 2017 ontem distinguiu com o prémio de fotojornal­ismo. Um trabalho sobre “o custo humano” que o investimen­to nos grandes eventos desportivo­s (como o Mundial 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016), “com obras que hoje de nada servem”, teve na cidade do Rio de Janeiro.

João Pina, 36 anos, passa temporadas no Brasil e construiu este trabalho “a vários tempos”. Em 2014, 2016, mas é algo que já vinha de trás – e que, provavelme­nte, prosseguir­á. Esta sua linha do tempo que lhe permite contar histórias com fotografia­s. “Há um ano comecei a seguir mais intensamen­te aquilo que era um problema social. Há mais desalojado­s, maior violência, a dissuasão das unidades pacificado­ras de polícia que desestabil­izaram toda uma região, fazendo aumentar as batalhas pelo poder e pelo controlo do território”, relata o fotojornal­ista. A pressão económica, o “aumento do valor do imobiliári­o com as pessoas a deixarem de ter dinheiro para viver onde viviam” é o tema do seu próximo livro, conta ao DN.

“Preciso de tempo para estar e de tempo para não estar, para refletir sobre o que estou a fazer”, diz. Para além do fotojornal­ismo – que o levou já a publicar nos grandes jornais mundiais como o The NewYork Times ou a Newsweek –, João Pina dá aulas no Rio de Janeiro e em Nova Iorque. Há três dias foi intimado para comparecer no sábado emViana do Castelo, e voltou à cidade mais de dez anos depois da última visita. Regressa com o prémio, no valor de três mil euros. “É uma reportagem de alto nível, com fotografia­s consistent­es, muito completa e que traz uma maneira diferente de mostrar os grandes eventos desportivo­s. A escolha foi clara e unânime”, referiu o presidente do grupo e jurados, Francis Kohn.

João Pina foi um dos premiados desta edição. A fotografia do ano foi para Felipe Carnotto, do Diário de Pontevedra, com uma imagem sobre o drama dos incêndios. O prémio Noroeste Peninsular, dedicado neste ano aos Caminhos de Santiago, foi para Xoán A. Soler, pelo trabalho A Emoción da Chegada, enquanto na categoria Notícias foi distinguid­o o fotógrafo Tiago Miranda pelo trabalho Mama Sumae, sobre a força militar de Comandos. José Carlos Carvalho recebeu uma menção honrosa por A Campanha dos Afetos, sobre a campanha presidenci­al de Marcelo Rebelo de Sousa. No desporto, o fotógrafo Octávio Passos foi galardoado pelo trabalho Corrida de Cavalos É Uma Roleta Animada.

Artur Machado, da Global Imagens, recebeu uma menção honrosa com O Rio, no Festival Paredes de Coura. A Bolsa Estação Imagem, que pretende abranger iniciativa­s ligadas ao Alto Minho, foi dada a Leonel de Castro, também da Global Imagens, pelo projeto Braços Minhotos no Horizonte Marítimo.

O júri do Estação Imagem é presidido pelo diretor de fotografia da AFP, Francis Kohn. É constituíd­o por Bénédicte Kurzen, da agência NOOR, David Guttenfeld­er, da National Geographic, Tyler Hicks, do The New York Times, e Andrei Polikanov, da russa Takie Dela.

“Preciso de tempo para estar e de tempo para não estar, para refletir sobre o que estou a fazer”, diz João Pina

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A pressão imobiliári­a que afasta as pessoas dos lugares de sempre no olhar de João Pina

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