Diário de Notícias

A derrota da ETA

- LEONÍDIO PAULO FERREIRA

AETA entregou ontem as armas e os explosivos que ainda detinha, seis anos depois de ter anunciado o fim das suas atividades terrorista­s. É uma excelente notícia, pois termina assim a última sublevação armada da Europa Ocidental, que durante décadas causou terror em Espanha tal como o IRA (entretanto também extinto na Irlanda do Norte) causava no Reino Unido.

O terrorismo não deixará de existir no chamado Velho Continente, como prova o ataque islamita de sexta-feira na Suécia e outros recentes do género, mas a derrota dos etarras mostra que é possível extingui-lo, seja qual for a sua motivação ideológica, se à ação das autoridade­s se juntar o repúdio da sociedade, como o fez o povo basco com tremenda coragem contra quem dizia lutar em seu nome mas ao mesmo tempo matava, raptava e extorquia com toda a facilidade.

É preciso lembrar que houve ETA antes e depois da chegada da democracia a Espanha. E que se os bascos eram oprimidos durante o franquismo, a ponto de a sua língua ser proibida, no período democrátic­o não só o País Basco beneficiou sempre de vasta autonomia como tem sido governado na maior parte do tempo por um partido nacionalis­ta. Por isso é inaceitáve­l aquilo em que a ETA se tornara, matando cerca de 900 pessoas (os números divergem), a sua esmagadora maioria já na época da Espanha democrátic­a, reconheced­ora da diversidad­e do país. A sociedade basca rejeitou o terrorismo sem hesitação, mesmo que setores radicais insistisse­m em ver alguma lógica na morte de militares, polícias ou políticos, que eram os alvos habituais do grupo.

A Espanha de hoje, sabemos bem, volta a estar muito marcada pelo debate em torno dos nacionalis­mos, com o catalão até a ser mais visível do que o basco. Mas por muito agreste que seja o confronto entre os defensores da unidade espanhola e os círculos independen­tistas a violência tem, e bem, estado ausente.

Que a memória do mal que a ETA fez à Espanha democrátic­a e sobretudo ao próprio País Basco espanhol nunca seja esquecida. E que a derrota de um certo tipo de terrorismo prenuncie a derrota, mais cedo ou mais tarde, de todos os outros tipos.

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