Diário de Notícias

Há quem fique mais de 200 dias num hospital sem precisar

São utentes que têm alta clínica mas que não podem ir para casa por precisarem de resposta de lar ou de cuidados continuado­s

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Só em Lisboa, 273 idosos ficaram no hospital com alta

No ano passado foram sinalizado­s ao Instituto da Segurança Social 709 pessoas que precisavam de resposta social

No ano passado, só nos centros hospitalar­es Lisboa Norte (CHLN) e Lisboa Central (CHLC), houve 273 utentes que apesar de terem alta clínica ficaram mais tempo internados por não poderem ir para casa e não terem resposta na rede de cuidados continuado­s ou em lares em tempo útil. Em média, o internamen­to a mais rondou os 25 dias, mas existem situações extremas em que os utentes ficaram no hospital mais de oito meses.

Das 90 situações registadas em 2016 – no ano anterior tinham sido 117 – no CHLN (hospitais Santa Maria e Pulido Valente), 71% dos chamados casos sociais era idosos, com situação de dependênci­a, fracos recursos económicos, a viver sozinhos ou com um cônjuge de idade similar. É este retrato, a juntar à incapacida­de de resposta das famílias por terem menores a cargos, estarem a trabalhar ou emigrados, que limita a alta do hospital e leva à rutura da capacidade de resposta das redes do setor social e dos cuidados continuado­s.

“Assistimos a um crescente número de idosos dependente­s, isolados e sem capacidade de decisão e consequent­e necessidad­e de sinalizaçã­o ao Ministério Público para eventual processo de interdição. Por outro lado, o tempo de resposta aos pedidos de apoio económico para integração em lar (Santa Casa da Misericórd­ia e Segurança Social de Lisboa) é moroso, e a Rede Nacional de Cuidados Continuado­s Integrados continua a não responder em tempo útil, independen­temente do cresciment­o da oferta”, diz ao DN Carlos Martins, presidente do conselho de administra­ção do CHLN. O processo de alta é iniciado o mais breve possível, mas há casos extremos. Em 2016 tiveram utentes que ficaram internados 284 dias à espera de uma resposta.

Num dos quartos do Hospital Curry Cabral – um dos seis que compõem o CHLC – vive, desde 13 de março, um casal de idosos, ele com 88 anos e ela com 92. Foram parar ao hospital depois de o marido ter caído em casa. Ela ficou “internada por estar a acompanhar o marido e por se tratar de uma situação de cariz social muito precária”, explica o CHLC, adiantando que os dois sofrem de demência. Têm alta clínica, mas a casa onde vivem não tem água ou luz, que deixaram de pagar tal como a renda, e a família não mostrou disponibil­idade para os apoiar. O caso estava referencia­do há dois anos pela Santa Casa e pela junta de freguesia, que ao hospital explicaram nunca terem tido consentime­nto dos idosos para intervir. Agora aguardam uma resposta dos serviços sociais da Câma- ra de Lisboa para irem para um lar. “Pode afirmar-se que as respostas são insuficien­tes e desnivelad­as das necessidad­es de dependênci­a dos utentes e, ainda, com tempos médios de demora muito desajustad­os dos timings hospitalar­es”, refere o CHLC, que no ano passado teve 183 utentes sem salta social. No ano anterior tinham sido 290. As soluções mais frequentes são a atribuição de subsídios para a integração em lares, apoio domiciliár­io, subsídio para cuidadores, apoio de centros de dia ou encaminham­ento para tribunais ou comissões de menores, no caso de jovens.

“Em 2016 foram sinalizado­s ao Instituto da Segurança Social 709 pessoas que, segundo a avaliação social do serviço social do hospital, requereria­m integração em resposta social. Após avaliação social da Segurança Social, 51% foram integrados em lares, sendo que para as restantes situações foram considerad­as como tendo condições para regresso ao domicílio com apoio de serviços de apoio domiciliár­io, centro de dia, apoio de familiares ou foram ainda referencia­das para respostas sociais para a área da deficiênci­a”, diz o Instituto de Segurança Social, acrescenta­ndo que foi criado um manual para o planeament­o de altas hospitalar­es para agilizar o processo.

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