Diário de Notícias

Marcelo e um dia de morabeza na terra mais alegre de Cabo Verde

No terceiro e último dia da viagem, o Presidente da República voltou à escola e à universida­de, condecorou, recebeu presentes e passeou pelas ruas do Mindelo

- JOÃO ALEXANDRE Enviado especial TSF/DN

O Mindelo é um lugar diferente e especial no contexto cabo-verdiano. Aqui nasceram grandes nomes da música do país. Cesária Évora, a “diva dos pés descalços” e “rainha da morna”, é o nome maior, mas, na história desta terra e da ilha de São Vicente, ainda há Bana, B.Leza ou Tito Paris, recentemen­te condecorad­o – ainda em Lisboa – por Marcelo Rebelo de Sousa.

Mais do que em Santiago ou no Fogo, outras das ilhas visitadas pela comitiva presidenci­al, aqui a “morabeza” – expressão crioula que significa acolhiment­o, gentileza ou hospitalid­ade – é uma realidade incontorná­vel, e a constataçã­o é feita poucos minutos depois da chegada.

Marcelo Rebelo de Sousa sabe-o. Prova disso são as primeiras palavras do Presidente, ao final da manhã, no edifício da Câmara Municipal. “Não há nenhum outro povo do mundo que tenha em comum estas duas realidades, morabeza e saudade, que são inseparáve­is. Onde há morabeza há saudade e há saudade porque há morabeza”, defendeu o Chefe de Estado que, à chegada ao Mindelo – que considera a “terra mais divertida e mais alegre de Cabo Verde” – foi recebido em clima de euforia por dezenas de pessoas. E por alguns pingos de chuva.

Cabo-verdianos e portuguese­s juntos, para celebrar a chegada daquele que é visto por muitos como uma figura dos dois países.“É o nosso Presidente”, diz-nos Maria do Sameiro, 75 anos, e mindelense de gema, com dois filhos a viver em Portugal. Ali ao lado, André Delgado Monteiro, um cabo-verdiano a viver no Luxemburgo, também espera Marcelo, sublinhand­o que para os habitantes de Cabo Verde a presença do Presidente português é “um grande sonho”. “Mais próximos do que nunca” As “afinidades” entre os dois países, como refere o Chefe de Estado, são evidentes e, ao almoço, em jeito de balanço da visita de Estado, é perentório: “Os dois países, os dois Presidente­s e os governos estão mais próximos do que nunca. Quer dizer que o povo cabo-verdiano e o povo português estão identifica­dos no essencial.”

Além das relações comerciais, do investimen­to português, da investigaç­ão ou da vertente militar e geoestraté­gica, em Cabo Verde, sublinha o Presidente da República, um dos grandes “domínios aprofundad­os” foi a educação – suportada pela partilha de vários elementos culturais e da língua portuguesa. Marcelo considera que a cultura é “inseparáve­l” da educação. Razão suficiente para que, durante os três dias da visita, tenha aproveitad­o para visitar duas escolas portuguesa­s no arquipélag­o inaugurada­s pelo governo de António Costa.

Primeiro na Praia e depois no Mindelo, onde o Chefe de Estado, em diálogo constante com as crianças, com quem sempre demonstra grande cumplicida­de, aproveitou para entregar alguns livros e condecorar Rosália Vasconcelo­s – a cônsul honorária de Portugal no Mindelo e a grande impulsiona­dora do projeto – com o Grau de Comendador­a da Ordem do Infante Dom Henrique.

Depois do tempo passado com as crianças da escola portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa não esqueceu também os alunos mais velhos e, ainda no Mindelo, rumou à Universida­de de Cabo Verde, para, juntamente com o presidente cabo-verdiano, responder a algumas perguntas de alunos e professore­s. Uma conversa aberta, com questões acerca de temas como o futebol, a importânci­a da cultura na política, mas também sobre a mobilidade – e em particular dos estudantes – entre os dois países e a burocracia em torno dos vistos de residência para os cabo-verdianos a residir em Portugal.

“Da nossa parte, o que for possível fazer com o nosso esforço iremos fazer”, respondeu o Presidente que, no espaço universitá­rio, deixou um conselho: “A universida­de é muito importante para aprender a resolver problemas. Interessa saber resolver problemas.”

Em Cabo Verde, durante os três dias de visita de Estado, tal como se adivinhava, a visita decorreu em ritmo frenético. Hoje, Marcelo chega ao Senegal, onde cumpre o primeiro de dois dias de visita oficial.

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Na terra de Cesária Évora, Marcelo (aqui com o seu homólogo cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca) insistiu nos benefícios da cultura

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