Modelo de ensino permite que alunos façam apenas unidades curriculares. Área da gestão autárquica é muito procurada
Criada com o objetivo de “trabalhar para a população ativa”, a Universidade Aberta é a mais jovem do sistema de ensino superior público – 29 anos – e está virada também para “preparar o futuro na educação digital”, explica o seu reitor, Paulo Dias. “A Universidade Aberta [UAb] tem de antecipar, desenhar o digital do futuro. O papel da universidade tem de ser absolutamente disruptivo, ela tem de ser capaz, pela sua especialização, de antecipar completamente as tendências”, acrescenta.
Uma das tendências é o consórcio feito com a Universidade de Coimbra. “Aquilo que estamos a fazer é preparar uma oferta a larga escala de ensino construído com a marca da Universidade de Coimbra e com o conhecimento e capacidade de estar no mundo que tem a Universidade Aberta.” Uma oferta que vai além da colocação online do material das aulas presenciais, sublinha o reitor.
Paulo Dias acrescenta que o futuro passa ainda por “laboratórios virtuais de imersão” e “sistemas de ajuda inteligente aos alunos”. E em alguns casos é já o presente. “Temos um curso de ensino de português para estrangeiros que tem laboratórios virtuais, para a vocalização. Falo e aquilo vê se o que queria dizer está de acordo com o padrão. Mas posso ir mais longe e trabalhar com ambientes de realidade aumentada e ter um laboratório para fazer manipulação de objetos que é isso que nós queremos.”
Inovações que são essenciais, mas que não fazem perder o foco no ensino e na formação de estudantes, um pouco por todo o mundo. Sendo uma universidade que permite estudar em qualquer lugar e a qualquer hora, a UAb tem neste momento quase 6300 estudantes, espalhados por 31 países. Maioritariamente portugueses, mas também estrangeiros interessados em aprender uma das línguas “mais influentes nos negócios”. “O português é uma língua com forte impacto económico, somos 260 milhões de falantes no mundo. Somos a terceira língua mais utilizada nas redes sociais, tem um peso muito importante.”
Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda, fez a licenciatura entre 1999 e 2005 na Aberta
Os alunos escolhem esta universidade normalmente pela maior facilidade em conciliar a vida profissional com os estudos. Foi o caso de Catarina Martins que fez aqui a licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas, entre 1999 e 2005. A líder do Bloco de Esquerda (BE) estava a trabalhar e já tinha “tido a experiência de incompatibilidade de horários entre o curso que tinha frequentado na Universidade de Coimbra e a vida profissional”. Flexibilidade é o trunfo Nesse período, Catarina Martins teve horários que permitiram “uma intensa vida profissional e familiar – as minhas duas filhas nasceram neste período e foi possível compatibilizar tudo”, aponta. Além disso, sublinha a exigência do curso: “Depois da licenciatura fiz mestrado na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e senti-me tão preparada como os meus colegas.”
Como líder de um partido, defende que “com os desenvolvimentos tecnológicos existentes, é possível e desejável alargar esta oferta educativa” de ensino à distância.
A UAb foi também a escolha de Horácio Ruivo, professor do ensino secundário de Português e Francês, para a sua segunda licenciatura, para o mestrado e o doutoramento. “Moro a mais de 100 quilómetros de Lisboa, tinha a minha vida profissional e familiar aqui [na Vidigueira] e por isso estudar na Aberta foi o ideal para mim”, conta ao DN.
Hoje com 56 anos, Horácio “quis complementar” a sua formação inicial, quando já tinha mais de 40 anos. Fez todas as formações no tempo regular – o que nem sempre acontece com os alunos do ensino à distância – e ainda recebeu um prémio de mérito pelos bons resultados obtidos. As principais diferenças em relação ao ensino presencial estão na responsabilidade que é imputada aos alunos. “Aqui somos responsáveis, nós procuramos a matéria, não é o professor. As pessoas têm uma maturidade diferente, trabalham por si próprias, embora haja professores permanentemente disponíveis, que ajudam e esclarecem dúvidas.”
A média de idades dos alunos “está no intervalo dos 35/45 anos”. A maioria está a fazer ciclos de estudos completos, mas “uns 200 a 400” apenas frequentam “unidades curriculares”, explica o reitor Paulo Dias. Quem frequenta estas unidades “são pessoas que já têm uma formação e vêm à procura de informação sobre qualquer coisa que querem saber”. Por exemplo, “sobre álgebra computacional, programação, direito, muito ligado a questões de gestão autárquica, porque as pessoas estão envolvidas em processos e precisam de saber procedimentos, e isso acaba por ser um modelo de formação complementar”. No limite, sublinha o responsável, “é possível fazer um ciclo de estudos juntando ao longo dos anos as várias unidades curriculares”. “Isso é que é a democratização da educação”, conclui.