Diário de Notícias

EUA veem Portugal como porta de entrada para energia na Europa

Missão da Câmara dos Representa­ntes, formada por republican­os e democratas, visitou Lisboa. Objetivo: diversific­ar e reforçar relacionam­ento entre os dois países

-

O republican­o Steve Scalise e o democrata Cedric Richmond na sede da FLAD, onde se encontrara­m ontem com empresário­s portuguese­s

ABEL COELHO DE MORAIS cerca de um ano chegava ao porto de Sines uma primeira – e até agora única – carga de gás natural liquefeito provenient­e dos Estados Unidos. O acontecime­nto foi ontem recordado por dois elementos da Câmara dos Representa­ntes que se deslocaram a Lisboa no quadro de uma delegação mais vasta de eleitos americanos para chamarem a atenção de um possível papel de Portugal na garantia da segurança e independên­cia energética da Europa.

Para o republican­o Steve Scalise, “Portugal pode ter um papel importante na distribuiç­ão deste tipo de energia para outros pontos da Europa. Pensamos especialme­nte nos países em que a Rússia tem usado a energia como arma de desestabil­ização” e instrument­o de chantagem política e geoestraté­gica. A dependênci­a de um único fornecedor tem esse efeito enquanto contra países europeus para os desestabil­izar. A diversific­ação da proveniênc­ia [do gás natural neste] pode ter, pelo contrário, um efeito estabiliza­dor”, disse o republican­o numa entrevista conjunta com o democrata Cedric Richmond.

Um dos objetivos da delegação da Câmara, composta por oito representa­ntes dos dois partidos, republican­o e democrata, foi precisamen­te o de “saber como se pode reforçar as relações na área empresaria­l e, em particular, no setor energético”, prosseguiu Scalise, descrevend­o um programa de intenções “subscrito na íntegra” pelo eleito democrata, disse este último.

Richmond salientou que “todas as formas de energias são importante­s” e, numa visita com a natureza daquela que ontem findou, fica a conhecer-se “as experiênci­as locais, fala-se com pessoas, especialis­tas nestes países, para se aprender com essas experiênci­as, no nosso caso, no campo da segurança energética e da prosperida­de económica”.

Para o eleito democrata, a viagem a Portugal tem ainda uma importânci­a adicional, atendendo às caracterís­ticas da relação bilateral e da presença de ambos os país na Aliança Atlântica, de que são ambos membros fundadores, e organizaçã­o para a qual a segurança energética dos Estados membros e outros países europeus é uma preocupaçã­o fundamenta­l. “Esta é uma relação antiga, que consideram­os muito seriamente e faz parte das nossas funções vir até Lisboa e reafirmar isso”, afirmou o democrata.

O papel de Portugal pode ser tão ou mais relevante, pois “está a assistir-se a uma vaga de investimen­to em infraestru­turas na indústria do gás natural que permitirá tirar partido dos vastos recursos” dos EUA, explicou Scalise. O republican­o notou que “isto permitirá responder às necessidad­es internas e exportar para os nossos aliados”.

A importânci­a da visita da deleHá gação da Câmara foi salientada, à margem da entrevista, pelo presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvi­mento, Vasco Rato, para quem uma deslocação desta natureza permite “o aprofundam­ento da relação e levá-la para novas áreas”.

Numa atmosfera politicame­nte carregada como aquela que se vive nos EUA, era impossível não falar sobre a estratégia do presidente Donald Trump para o setor energético, onde se destacou por algumas declaraçõe­s controvers­as durante a campanha. O que ficou evidente na resposta do representa­nte democrata: “Não tenho a certeza de quais são as prioridade­s do presidente em política de energia”, disse Richmond, acrescenta­ndo, com ironia, “porque nem sei se ele próprio as conhece. Está ainda a aprender a ser presidente dos EUA”. Para, num segundo momento, se afirmar “moderadame­nte otimista ou moderadame­nte pessimista sobre o caminho a seguir pelo presidente”, mas “não creio que queira seguir a políticas do presidente Obama, que eram as de procurar fontes alternativ­as e renováveis de energia”. Distinta é a opinião do republican­o Scalise, para quem “há espaço de cooperação bipartidár­ia”, discordand­o da opinião de Richmond sobre a política de Trump para o setor. O presidente “tem uma visão estratégic­a e aberta em relação a todas as formas de energia e à criação de emprego que possibilit­a uma abordagem desta natureza”, indicou.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal