Diário de Notícias

Ainda bem que a tradição já não é o que era!

- ROSÁLIA AMORIM DIRETORA DO DINHEIRO VIVO

Atradição já não é o que era”. Ouvimos esta frase, vezes sem conta, no nosso dia-a-dia, nas empresas ou em ambiente familiar, e sempre com um tom desanimado­r e saudosista. Sempre que ouço que “a tradição já não é o que era”, penso “e ainda bem”!

Se a tradição fosse apenas o que era, hoje não teríamos um país mais inovador, mais criativo, mais arrojado e que continua à conquista de mercados internacio­nais. Apesar de todas as dificuldad­es pelas quais os portuguese­s passaram, desde que a troika aterrou em Portugal deixando réplicas do terramoto até hoje, foram capazes de se reinventar. E fizeram-no em vários setores tradiciona­is.

Numa Semana Santa como esta, a da Páscoa, vale a pena enaltecer o que o homem tem de melhor. A sua capacidade de amar os outros, de se entregar, de se reinventar. É essa capacidade que tem permitido aos portuguese­s dar a volta por cima e não desistir mesmo quando as notícias teimam em mostrar-nos um país sobre-endividado e com meia dúzia de bancos quase falidos.

Muitos portuguese­s, a maioria empreended­ores, foram capazes de ver mais longe no setor do têxtil, do calçado, da energia, da cortiça, entre tantos outros. Há dias escutava João Rui Ferreira, presidente da APCOR, a relatar alguns dos feitos internacio­nais da cortiça e pensei, de novo, “ainda bem que a tradição já não é o que era”!

Há uns bons anos, já jornalista de profissão, sempre que ouvia falar de cortiça escutava lamúrias contra as rolhas feitas de aglomerado­s de plástico, também chamados vedantes, que imitavam a cortiça e nos roubavam mercado.

Hoje a cortiça é a mesma da tradição mas reposicion­ou-se, está associada a produtos de alta qualidade, soube promover-se no mercado interno e externo, usa novas formar de produzir e já começou a introduzir o paradigma do 4.0 no sistema fabril. Este é um produto tradiciona­l português mas cada vez melhor, com novos mercados e com um cresciment­o sustentado.

Foi ainda atingido um outro recorde em 2016, quanto ao número de países para os quais é vendida a cortiça made in Portugal, totalizand­o já 133 mercados. Mais: Portugal é líder do mercado mundial de rolhas com 70% de quota, seguido das cápsulas de alumínio com 20% e do plástico com 10% de quota. Devemos orgulhar-nos dos setores tradiciona­is que fizeram pequenas revoluções silenciosa­s e que permitiram a Portugal que, mesmo em plena crise, continuass­e a exportar. O máximo histórico das exportaçõe­s de cortiça foi atingido em 2016, com 937,5 milhões de euros, mais 4% face ao ano anterior, e o peso nas exportaçõe­s aumentou. Boas notícias das quais nos vamos lembrar quando abrirmos a garrafa de vinho – com rolha de cortiça, claro – que vamos levar à mesa no Domingo de Páscoa.

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