O escultor foi um dos precursores da arte ecológica em Portugal e responsável pela criação de museus ao ar livre em Santo Tirso e Carrazeda de Ansiães. Tinha 79 anos
MARIA JOÃO CAETANO O artista no Jardim Escultura Alberto Carneiro, em São Mamede do Coronado, inaugurado em 2015 um papel importantíssimo”, acrescentou. Foi a partir de então que usa o conceito de escultura em campo expandido de Rosalind Krauss, “em que a escultura deixa de ser um monolítico e entra num processo de criação que é simultaneamente objetual, mas também performativo”.
No regresso a Portugal, foi diretor pedagógico e artístico do Círculo de Artes Plásticas da Universidade de Coimbra, tendo, a partir de 1985 e até 1994, dado aulas na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Entretanto, a sua obra conquistou um espaço na arte portuguesa.
“Foi daqueles artistas que levou a escultura de uma forma muito radical e muito consequente a uma espécie de grau zero daquilo que era possível fazer em escultura, para poder renascer outra vez mais escultura, e fez isso de uma forma absolutamente inovadora em Portugal, nos anos 1960”, afirmou o escultor Rui Chafes, para quem Carneiro representou “uma quebra, uma rutura com a escultura mais comum e deixou um legado que abriu portas a muitos outros escultores e muitos outros artistas na sua relação com os materiais, com a natureza, com a performance”.
Foi por sua iniciativa que foram criados o Museu Internacional de Escultura Contemporânea (MIEC) ao ar livre, em Santo Tirso, e o Parque Internacional de Escultura Contemporânea na vila de Carrazeda de Ansiães. À Lusa, o presidente da Câmara de Santo Tirso, Joaquim Couto, recordou a altura, no início dos anos 1990, em que Alberto Carneiro o abordou com “o sonho genial” de fazer um museu ao ar livre com esculturas de todo o mundo, o qual veio a traduzir-se no MIEC, que atualmente tem 54 obras espalhadas por vários espaços públicos de Santo Tirso, distrito do Porto, sendo apoiado por um espaço-sede desenhado pelos arquitetos Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto de Moura.
O presidente da Câmara lamentou que Alberto Carneiro não tenha assistido “por dias” à adjudicação da obra relativa ao projeto Centro de Arte Alberto Carneiro, espaço que a Câmara vai edificar na Fábrica de Santo Thyrso.
Alberto Carneiro participou nas bienais de Veneza (1976) e São Paulo (1977), entre outras exposições internacionais. Entre as antológicas, destaque para as apresentadas na Fundação Calouste Gulbenkian (1991), em Lisboa e na Fundação de Serralves (1991), no Porto. Em 2008, em entrevista ao Jornal de Notícias, reconhecia a permanente insatisfação com o seu trabalho: “Quero fazer o que ainda não consegui. Costumo dizer que se vivesse 800 anos ainda andava à procura. Procuro saber o que não quero, sei que não sei o que quero.”