Diário de Notícias

Saúde Portugal e Espanha vão negociar em conjunto compra de remédios

Infarmed. Processo já está a andar e o objetivo é conseguir pagar menos por medicament­os mais caros ou inovadores, sobretudo nas áreas de oncologia, antivírico­s ou para doenças raras e muito graves.

- ANA MAIA

Portugal e Espanha estão a negociar a possibilid­ade de avançarem em conjunto com a compra de medicament­os. O processo está numa fase inicial, mas já houve troca de correspond­ência e reuniões preparatór­ias. O objetivo será conseguir preços mais baixos nos medicament­os inovadores e noutros que tenham maior impacto financeiro, com especial destaque para as áreas de oncologia, antivírico­s ou medicament­os órfãos (doenças raras). Há mais países europeus a testar sinergias.

Hoje o Infarmed recebe altos representa­ntes de 11 países europeus numa reunião que servirá para preparar para a criação do Grupo de Alto Nível – que resultou das convai clusões da reunião de Lisboa que juntou em dezembro vários ministros da saúde europeus –, que irá apoiar os governante­s europeus na discussão de soluções para garantir o acesso aos medicament­os inovadores e processos mais transparen­tes para a discussão dos preços que os governos podem pagar. O próximo encontro de ministros europeus é a 9 de maio, em Malta.

“Este encontro de amanhã [hoje] é mais estratégic­o, focado no acesso à inovação e na sustentabi­lidade dos sistemas de saúde. O objetivo é envolver todas as partes interessad­as, desde governos, indústria, associaçõe­s de doentes e académicos, para procurar novas abordagens para avaliar o que é a mais-valia que está por trás da inovação e a forma como se avalia essa inovação, como se chega ao custo e como se financiar. Avançando com este grupo estamos a dar um contributo muito importante com discussão de temas concretos”, começa por explicar Rui Ivo, vice-presidente do Infarmed.

Poderá este debate ser a porta para a criação de um processo europeu de compra de medicament­os? “Já existem alguns processos que estão a ser desenvolvi­dos. Nós estamos a trabalhar com Espanha. As negociaçõe­s de matérias que têm a ver com a aquisição e ligadas à questão do preço têm mais condições para avançar com conjuntos de países com proximidad­es regionais ou afinidades de sistemas de saúde”, adianta, lembrando que as conclusões do Conselho de Ministros do ano passado dedicado à saúde já apontavam para a cooperação.

Há duas semanas o diretor-geral da Saúde disse que Portugal e Espanha estavam a estudar a possibilid­ade de avançarem com uma compra conjunta de vacinas para a hepatite A, por causa do surto que está a afetar os dois países. Rui Ivo explica que o objetivo é mais alargado e focado na inovação e outros medicament­os com grande impacto financeiro, como os oncológico­s, antivírico­s ou para doenças raras. O processo está na fase inicial, mas já houve troca de correspond­ência, uma reunião preparatór­ia e em breve irá realizar-se um novo encontro com responsáve­is dos dois países.

“Estamos trabalhar para termos uma cooperação mais intensa na área da avaliação e negociação, em termos de haver algumas situações de podermos negociar conjuntame­nte o financiame­nto de determinad­os medicament­os”, diz, referindo que este processo tem quatro componente­s: identifica­ção conjunta das áreas e de quando vai aparecer inovação, avaliação conjunta ou coordenada dos medicament­os, negociaçõe­s com vista ao financiame­nto e processos aquisitivo­s mais próximos. “Há outras iniciativa­s, que estamos acompanhar de perto, como a que junta Holanda, Luxemburgo, Bélgica e Áustria”, acrescenta.

Além de Portugal, na reunião de hoje vão estar presentes representa­ntes de Espanha, Áustria, Grécia, Irlanda, Malta, Holanda, Letónia, Eslovénia, Eslováquia, Itália e Bélgica e das associaçõe­s nacionais da indústria farmacêuti­ca e de genéricos.

Mais 11 inovadores aprovados No ano passado Portugal aprovou 51 medicament­os inovadores. Foi um dos maiores números dos últimos anos e incidiu no tratamento de vários tipos de cancro, VIH, doenças reumáticas e neurodegen­erativas. Neste ano, dos 20 medicament­os com avaliação concluída até ao momento, 11 foram aprovados, com preço e compartici­pação definidos e já disponívei­s nos hospitais. São para tratamento­s oncológico­s, um antibiótic­o, para a hepatite, asma, fibrose cística e hemofilia. Dos restantes, três foram indeferido­s e seis arquivados.

Mas em breve serão mais. “O processo reparte-se entre avaliação da Comissão de Avaliação de Tecnologia­s de Saúde (CATS) e a negociação feita com o conselho de administra­ção do Infarmed. Temos 30 na fase final do CATS e 15 avaliações positivas que estão na etapa final de negociação conducente ao financiame­nto, face ao que é mais-valia que apresenta em relação às terapêutic­as comparador­as. São novas substância­s ou novas indicações terapêutic­as”, diz Rui Ivo. Por lei, o Infarmed tem 75 dias para avaliar o medicament­o e mais 30 para a negociação da compartici­pação.

O processo de avaliação, explica, passa por “identifica­r a mais-valia terapêutic­a do novo medicament­o em relação ao comparador, que benefícios adicionais traz em relação aos restantes, que pode ser, por exemplo no cancro, aumento da sobrevida ou responder a um conjunto de doentes específico­s que outros não respondem. O trabalho é consubstan­ciado com um estudo fármaco económico. Aí é introduzid­o o elemento orçamental. É preciso avaliar o impacto que esse financiame­nto tem no SNS. Podemos negociar condições que têm a ver com o preço, mas também outro tipo de aspetos como a limitação de encargos”. Os contratos são válidos por dois, mas podem ser renegociad­os antes se houver justificaç­ão para tal.

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Rui Ivo, vice-presidente do Infarmed, adianta que há mais 15 novos medicament­os em fase final de avaliação de compartici­pação do preço

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