FRANCISCO GEORGE QUER VACINA OBRIGATÓRIA E CASTIGO PARA PAIS QUE NÃO A DÃO
Francisco George e o pediatra Mário Cordeiro entendem que os pais que não vacinam os crianças deviam ser punidos. Mesmo com 15 casos confirmados e 11 em investigação, “não é possível impor a vacinação”, diz diretor da Saúde
Há 15 doentes confirmados e 11 em investigação em Portugal, onde a doença estava erradicada. Diretor-geral da Saúde diz que “não vacinar é pôr em risco a vida das crianças”.
Portugal enfrenta uma “epidemia de sarampo, com mais casos do que os esperados”, garantiu ontem o diretor-geral da Saúde (DGS), Francisco George. Para já, há 15 doentes confirmados e 11 em investigação, na maioria crianças e todos eles portugueses (não importados). “Se os 11 em investigação forem confirmados pelo Instituto Ricardo Jorge, ficaremos a ter 26 casos, que provavelmente ainda vão aumentar. Mas não vamos temer uma epidemia de grande escala. A maioria da população está protegida com a vacina”, afirmou Francisco George aos jornalistas.
O único caso de “perigo de vida”, é o de uma jovem de 17 anos que foi contagiada no Hospital de Cascais por um bebé de 13 meses não vacinado, e que está agora a ser acompanhada no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, em quarto isolado. Francisco George lançou ontem o debate sobre a “obrigação moral de os pais vacinarem os filhos” e defendeu até que aqueles que não o fazem sejam penalizados. “A decisão dos pais em não vacinar os filhos põe em risco a vida das crianças”, sublinhou. A primeira toma da vacina do sarampo deve ser aos 12 meses e garante logo 95% de imunidade, a segunda deve ocorrer aos 5 anos, afirmou o diretor-geral da Saúde.
Francisco George não vai recomendar que o plano nacional de vacinação se torne obrigatório “porque essa é uma questão política, de direitos, liberdades e garantias”, mas entende que deve haver debate. “É preciso perceber se os direitos em termos de garantias individuais, de liberdade, se sobrepõem ao interesse coletivo. É uma questão que tem de ser debatida. Aliás, já foi, no passado, nas nunca se resolve.”
O pediatra Mário Cordeiro participou no primeiro debate, há duas décadas, quando houve o último surto epidémico de sarampo. “Há cerca de 20 anos, o meu parecer na Direção-Geral da Saúde foi que as vacinas não deviam ser obrigatórias, mas que os pais, por verem nelas uma coisa boa, ver-se-iam na “obrigação moral de vacinar os filhos”, afirmou.
Pais devem ser responsabilizados Mário Cordeiro considera que os pais que não vacinam os filhos “deviam ser responsabilizados a nível penal porque incorrem no crime de homicídio por negligência” em caso de morte das crianças. Mas não defende a obrigatoriedade legal da vacinação. “Não devem ser obrigatórias. Verifiquei que não se ganhava em eficácia, pelo contrário, pode gerar uma reação “do contra.” Por outro lado, a averiguação da responsabilidade, quem a faria, nesses casos? Dos pais, do patrão que não deixou o trabalhador sair mais cedo para ir vacinar os filhos?”, questiona. E recorda que em França, durante um tempo, quem não vacinasse e não fosse com os filhos à vigilância de saúde perdia o abono de família. “Viu-se que a medida penalizava os mais fracos, os mais pobres, os menos informados, e que era socialmente injusta.”
É médico e não vacinou a filha
Francisco Patrício, médico de clínica geral há 40 anos e presidente da Sociedade Médica Homeopata de Portugal, é contra a vacinação e decidiu, em consciência, não vacinar a sua filha de dois anos e meio. “Há cerca de uma semana, a minha filha teve escarlatina por causa de um surto que houve na creche. Utilizei um combinado de beladona e acónito (duas plantas) para baixar a febre. E resultou, a febre desceu”, contou.
Enquanto o sarampo é produzido por um vírus, a escarlatina é causada por uma bactéria. Mas, segundo Francisco Patrício, ambas podem ser combatidas com tratamentos homeopáticos, custando “um tubo de homeopatia apenas 3,5 euros”. Mas ressalva: “Ainda não tenho fundamentos para dizer: ‘Não vacinem os vossos filhos’.”
Dos 15 casos confirmados em Portugal, sete surgiram no Algarve e seis tiveram origem em Cascais (cinco funcionários do Hospital de Cascais – dois deles médicos – e uma jovem de 17 anos internada em estado grave no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa). O foco de contágio em Cascais foi o bebé de 13 meses. Maria João Brito, diretora do departamento de infecciologia do Dona Estefânia, adiantou aos jornalistas que em casos graves o sarampo pode provocar problemas respiratórios e neurológicos. E que em situações epidémicas extremas pode haver vacinação antes dos 12 meses mas que Portugal não está ainda nessa fase.
“Está a ser estudada a ligação dos surtos do Algarve e de Cascais. Mas há bolsas de cidadãos estrangeiros que permitem a circulação do vírus” no país, lembrou, por sua vez, o diretor-geral da Saúde, Francisco George.