Diário de Notícias

GOVERNO REDUZ EM 14 ANOS A META PARA CORTAR A DÍVIDA PÚBLICA PARA METADE

Agora que país cumpre regra dos 3% do défice, passa a estar obrigado a chegar a uma dívida de 60% em 20 anos. Programa de Estabilida­de prevê chegar lá em apenas 15. Redução acelerada do défice mal recebida pela esquerda

- LUÍS REIS RIBEIRO

Regras de Bruxelas obrigam a reduzir dívida a 60% do PIB em 20 anos. OE previa chegar lá em 2046. Programa de Estabilida­de antecipa para 2032.

A trajetória de sustentabi­lidade da dívida pública foi revista e melhorada de forma significat­iva no Programa de Estabilida­de face ao que estava desenhado há seis meses no Orçamento do Estado.

No novo documento, que será debatido amanhã no Parlamento e enviado depois para Bruxelas avaliar, o governo calcula que é capaz de cumprir a regra dos 60% do produto interno bruto (PIB) em 2032, 14 anos mais cedo do que dizia no OE (em que apontava chegar ao objetivo apenas em 2046).

O governo tem sido criticado, sobretudo pelos partidos de esquerda que o apoiam no Parlamento (BE, PCP, PEV ), de estar a ir demasiado longe na redução do défice, defendendo que a dívida, tal como está – equivalia a 130,4% do PIB no final de 2016 – é que é insustentá­vel e obriga a cortes dolorosos na despesa. Pedem medidas que reestrutur­em a dívida, prazos mais longos para pagar e juros ainda mais leves.

Mário Centeno, ministro das Finanças, não quer ir por esse caminho e diz que o Programa de Estabilida­de traz uma “perspetiva de cresciment­o económico equilibrad­o, promotora de uma estratégia de consolidaç­ão das contas públicas ao mesmo tempo que promove a coesão social”. Uma mensagem que agradará a Bruxelas.

No Programa de Estabilida­de, o governo vai ainda mais longe e mostra que o cenário da dívida é agora muito mais favorável do que parecia há seis meses. O ponto de partida é melhor (o rácio da dívida é mais baixo, cerca de 127,9% do PIB, contra 128,3% no OE; os saldos primários (sem juros) futuros são muito maiores (4,9% ao ano em vez de 2,8%); a taxa de juro implícita da dívida é mais baixa (3,2% em vez de 3,5%). Só o cresciment­o nominal da economia até 2060 parece ser mais desfavoráv­el (3% em vez de 3,1% no Orçamento).

No novo cenário, o governo, agora que já tem um défice abaixo dos 3% do PIB exigidos pelo Pacto de Estabilida­de, diz que pode conseguir cumprir a regra dos 60% da dívida num prazo de 15 anos (em 2032), ou seja, chega lá mais cedo face aos 20 anos que era o prazo máximo concedido à luz dos novos tratados orçamentai­s europeus.

“Os pressupost­os assumidos são os que constam no último ano do Programa de Estabilida­de (2021), assumindo-se a manutenção do saldo primário (4,9% do PIB), da taxa de juro nominal implícita na dívida (3,2%) e, também, um cresciment­o médio do PIB nominal correspond­ente à média do período 2022-2060 do Ageing Report 2015 [Relatório sobre o Envelhecim­ento da População] para Portugal (3%). Com base nestes pressupost­os dever-se-á atingir um rácio da dívida em percentage­m do PIB inferior a 60% em 2032.”

No Orçamento, o quadro era bem diferente, para pior. “O cenário-base pressupõe que o saldo primário e a taxa de juro implícita na dívida manter-se-ão iguais aos valores previstos no Orçamento do Estado para 2017, ou seja, em 2,8% do PIB e em 3,5%, respetivam­ente. Relativame­nte ao cresciment­o do PIB nominal, assumiu-se a média entre 2018 e 2060 das projeções do Relatório sobre o Envelhecim­ento da População de 2015 (3,1%).”

As contas feitas nessa altura diziam que “a dívida pública em percentage­m do PIB manterá uma trajetória descendent­e, prevendo-se que em 2021 esteja abaixo dos 120% do PIB (119,1%), atingindo um valor abaixo dos 60% em 2046”.

Mas há aqui um senão nestas contas. É que o custo com a capitaliza­ção da CGD, por exemplo, ainda não aparece nas metas oficiais. “Estes números não registam nenhum impacto que possa vir a ser determinad­o, coisa que ainda não está feita, da capitaliza­ção”, confirmou Centeno. Assim é porque “está em análise com o INE e numa segunda fase com o Eurostat. É um assunto que está em aberto”.

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› Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República, começou ontem a ouvir os partidos sobre o Programa de Estabilida­de e o Programa Nacional de Reformas. Passos Coelho, presidente do PSD, garantiu que não vai...
Programa de Estabilida­de não vai a votos › Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República, começou ontem a ouvir os partidos sobre o Programa de Estabilida­de e o Programa Nacional de Reformas. Passos Coelho, presidente do PSD, garantiu que não vai...
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