Macron contra Mélenchon para França não ficar uma Cuba sem sol
Marine Le Pen pretende que país saia da “prisão” e prometeu que a sua primeira medida será devolver a França as suas fronteiras
Emmanuel Macron, à tarde, e Marine Le Pen, à noite. Os dois fizeram ontem grandes comícios em Paris, no sprint final para a primeira volta das presidenciais do próximo domingo. Antes de a candidata pegar na palavra perante seis mil apoiantes, o diretor de campanha de Marine Le Pen, David Rachline, lamentou que “a escumalha da extremaesquerda tenha tentado perturbar o comício”. Minutos antes, nas imediações do recinto Zénith, confrontos entre a polícia e manifestantes anti-Frente Nacional marcaram o início da noite. Depois foi a vez de a candidata subir ao palco e repetir as ideias que há muito vem defendendo. Le Pen criticou a “mundialização selvagem”, a transferência de soberania para os “burocratas de Bruxelas” e diz que quer fazer o país “sair da prisão”.
A candidata voltou a frisar a importância da França recuperar a “liapoiantes berdade de decidir por si mesma”. Não é novidade o tom eurofóbico dos discursos de Le Pen. “Sou a candidata da proteção”, disse ainda, antes de classificar Schengen como um “tratado irresponsável” e de garantir que a sua “primeira medida será devolver à França as fronteiras”. Isto porque “a seguir à imigração massiva vem o terrorismo”.
Emmanuel Macron, por seu turno, começou o dia a fugir da tabuada. Convidado do jornalista Jean-Jacques Bourdin, no programa Entretien d’Embauche, na BFMTV, o candidato pelo movimento En Marche! não quis dizer quantos são 7x8. “Não, não, não. Não quero entrar nos seus jogos”, asseverou Macron, garantindo que não é verdade quando se diz que ele era um “zero” a matemática. Ainda sobre números, o ex-ministro da Economia não fugiu a explicar os seus rendimentos, garantindo que não tem offshores.
Horas depois, durante a tarde, foi o momento de se dirigir aos num grande comício em Bercy, Paris. Acossado pela subida de Jean-Luc Mélenchon nas sondagens, Emmanuel Macron decidiu desferir algumas farpas ao candidato de esquerda que nestas eleições é apoiado pelos comunistas: “Para alguns, França será como Cuba, mas sem o sol, ou como a Venezuela, mas sem o petróleo.” Ele, Macron, reclama-se herdeiro gaulista e acredita reunir em si o que há de bom em todos os lados: “Escolhi, tal como o general De Gaulle, o melhor da direita, da esquerda e do centro.”
Segundo os responsáveis do movimento En Marche!, no comício de Macron estiveram 25 mil pessoas – 20 mil no interior e cinco mil a seguir os acontecimentos por um ecrã gigante no exterior.
A avaliar pelas sondagens divulgadas ontem, Macron e Marine Le Pen continuam a ser os favoritos, mas, tendo em conta a curta distância para os outros candidatos e o elevado número de indecisos, pode falar-se em empate técnico entre os quatro.
Tal como já acontecia no estudo do Le Monde, nos cenários para a segunda volta (que será disputada a 7 de maio), Emmanuel Macron sai vencedor seja qual for o adversário e Marine Le Pen, por seu turno, perde com todos. Já Mélenchon venceria Fillon e este só levaria a melhor sobre a líder da Frente Nacional.
Todos garantem que serão os mais votados. “Vou fazer-vos uma confidência, nós vamos ganhar estas eleições”, segredou François Fillon durante o comício de ontem em Nice. “É o momento de começarmos a sonhar e de acreditamos na vitória”, assegurou Mélenchon.