Incubadora de startups e museu. Hotel é que não
A Fortaleza será um espaço de memória da resistência fascista. PCP concorda
Grupo consultivo defende gestão partilhada entre Estado e câmara
LINA SANTOS Seis reuniões depois, o grupo constituído para estudar o futuro da Fortaleza de Peniche, antiga prisão antifascista onde se pretendia construir um hotel, afasta de vez essa hipótese que valeu críticas por parte do Partido Comunista Português, e propõe a criação de um museu que evoque a resistência ao fascismo e de uma incubadora de empresas ligadas à economia do mar.
O programa, conhecido ontem, prevê a criação de um museu “que evoque as condições de funcionamento como prisão política do regime fascista entre 1934 e 1974 (incluindo as respetivas fugas)”, “a instalação de um memorial da resistência antifascista, homenageando os nomes dos cerca de 2500 presos políticos que ali estiveram encarcerados”, e a “criação de um núcleo de atividades e negócios ligados ao mar, “nomeadamente, uma incubadora de empresas ligada à economia do mar, atraindo startups associadas à indústria do surf e desportos de ondas, pesca, biologia marítima e turismo, áreas de comércio tradicional e ateliê de artes e ofícios e espaços para sedes de organismos ligados às indústrias do mar”, lê-se.
O documento não refere valores e o ministro da Cultura tão-pouco. “Esses cálculos estão a ser feitos e a seu tempo serão divulgados”, diz Luís Filipe Castro Mendes. Os próximos passos são delinear “um projeto arquitetónico, um projeto museológico, depois teremos de começar as obras”. E aqui faz um parêntesis: “Teremos de começar este ano as obras de reparação urgentes.”
O presidente da Câmara Municipal de Peniche, António José Correia, aponta para custos de três milhões de euros na reabilitação, e, além de ser membro do grupo consultivo, garante que esta proposta foi aprovada pelo PCP e PS em assembleia. Espera agora “vontade política” do governo. O modelo traçado pelo grupo consultivo consiste numa gestão partilhada entre Estado e administração local, com fontes de rendimento que vão para lá dos orçamentos do Estado e municipal, como a concessão de espaços, bilhética, fundos comunitários, mecenato e crowdfunding.
A proposta de construir um hotel na Fortaleza foi considerada “inaceitável” pelo PCP. Desta vez, concordam. “O documento estabelece, de forma correta e equilibrada, os princípios-base para que a Fortaleza de Peniche seja recuperada, requalificada e valorizada enquanto património nacional, tendo como parte integrante e fundamental o núcleo museológico dedicado à denúncia da repressão fascista, à resistência antifascista e à luta pela liberdade e a democracia.”
E quando estará aberto? “A nossa esperança é que esteja aberto no final da legislatura”, diz Castro Mendes. Ou seja, no final de 2019.