Exército vai testar e certificar produtos militares portugueses
Quase três centenas de empresas vão testar a qualidade dos sistemas de armas e equipamento nas operações dos militares tanto no território nacional como no estrangeiro
Quase três centenas de empresas portuguesas que produzem material militar podem candidatar-se, a partir de hoje, a que o Exército teste os seus produtos em exercícios ou missões reais nos teatros de guerra. Se aprovados pelos militares, recebem um selo de qualidade que podem apresentar junto dos potenciais compradores e nos mercados internacionais, soube o DN.
Esse sistema de certificação, segundo fontes do setor, é apresentado hoje pela empresa pública Indústria de Desmilitarização e Defesa (IDD) e pelo Exército no Museu Militar, em Lisboa. Este “projeto pioneiro”, como é divulgado, visa atestar a qualidade dos sistemas de armas e equipamentos criados e produzidos por cerca de 280 empresas portuguesas inscri- tas na Base Tecnológica e Industrial de Defesa.
O projeto envolve dois selos de garantia – consoante o material tenha sido testado em exercícios ou empregue em missões no estrangeiro – para “promover e contribuir para o desenvolvimento” das indústrias de defesa portuguesas, sublinhou uma das fontes.
Essa é uma das missões da IDD, empresa da holding pública Empordef e que funciona como uma AICEP das indústrias de defesa. Para isso, identifica mercados estratégicos para as empresas portuguesas do setor e em áreas que vão desde a indústria aeroespacial às comunicações e cibersegurança, transporte, robótica, fardamentos ou investigação e desenvolvimento.
Na origem deste programa de certificação está um protocolo de cooperação assinado entre a IDD e o Exército em outubro passado. A primeira iniciativa realizada nesse âmbito ocorreu há várias semanas, permitindo que 27 empresas do setor apresentassem sistemas de armas e equipamentos para um projeto específico que o ramo terrestre das Forças Armadas iniciou há década e meia: o sistema de combate do “Soldado do Futuro” – sendo certo que, em pano de fundo, estão potenciais candidaturas aos programas de reequipamento das Forças Armadas portuguesas inscritos da Lei de Programação Militar (LPM).
“Estamos a falar de equipamentos como capacetes, coletes balísticos, luvas de combate, lanternas táticas, equipamentos de primeiros socorros, GPS, bússolas ou sistemas de comunicação mais complexos”, precisou uma das fontes ouvidas pelo DN.
O sistema de combate integrado a usar por um soldado no futuro envolve cinco capacidades: letalidade, sobrevivência, mobilidade, sustentabilidade e a chamada C4I (Comando, Controlo, Comunicações, Computadores e Informações). Isto exige roupa inteligente (mede sinais vitais, regula temperatura, capta energia solar) e proteção balística reforçada, capacetes com visores e intensificadores de imagem, meios de transmissão (dados, voz e imagens) – e, claro, armamento.
Na cerimónia de hoje também serão apresentados, além dos certificados, o regulamento e o caderno com os requisitos a preencher pelas candidaturas. Conforme explicou uma das fontes, as empresas enviam as suas propostas à IDD, que as remete depois ao Exército. O ramo, por sua vez, analisa os projetos e indica prazos de avaliação operacional dos equipamentos – a exemplo do que fez há uns meses no Kosovo, quando testou um drone da empresa Takever naquela missão da NATO.
Se os militares aprovarem os equipamentos, as empresas recebem o respetivo selo de qualidade “com a marca Exército” e onde se lê “Army Tested” e “Combat Proven”. Os fabricantes ficam depois autorizados a apresentá-los durante cinco anos nas feiras e mercados internacionais, a certificar que os produtos foram testados e aprovados operacionalmente pelo ramo.
Note-se que, em caso de não aprovação, o Exército especificará dois níveis de resposta: “Não Conformidade” (por incumprimento de um critério); “Não Conformidade Maior” (há falhas no cumprimento de um ou mais requisitos operacionais ou situações de dúvida sobre a capacidade de se atingirem os resultados propostos).
Por fim, há um outro nível de qualificação que também pode ser aplicado aos equipamentos certificados: “Oportunidades de Melhoria”, onde se identificam áreas de potencial melhoria a obter em termos de eficácia e eficiência.