Nova super-Terra vai ajudar à busca de vida no espaço
Equipa que fez a descoberta inclui português. Exoplaneta está a 39 anos-luz
Um grupo internacional de investigadores, que inclui o português Nuno Santos, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), descobriu um novo exoplaneta que revelou ser um dos melhores candidatos até hoje conhecidos para aí se procurar sinais vida e para o estudo da sua atmosfera.
Trata-se de uma super -Terra, um planeta de tipo rochoso que é 1,4 vezes maior do que a Terra e que orbita uma estrela anã vermelha a 39 anos-luz daqui. A conjunção destas características torna-o um verdadeiro achado.
Ele tem não só as condições certas para poder ter água líquida na superfície, uma vez que está na chamada “zona habitável” em relação à sua estrela, como está a uma distância relativamente próxima da Terra, ou seja, na localização ideal para poder ser estudado em detalhe, o que geralmente não acontece com os exoplanetas em sistemas solares mais distantes.
“Este é provavelmente o melhor candidato identificado até agora para se fazer nos próximos anos um estudo mais detalhado sobre a sua atmosfera, se ele de facto tiver uma atmosfera, e para mais tarde aí se procurar as assinaturas químicas da vida, quando dispusermos das tecnologias para isso”, explica Nuno Santos.
Por isso, diz o cientista do IA, “esta é uma descoberta importante, porque estamos a falar de um planeta que à partida é rochoso, que está à distância certa da estrela para ter água líquida, embora ainda não saibamos se tem ou não, e que está relativamente perto daqui, o que nos vai permitir estudá-lo em detalhe durante os próximos dez anos, usando o bom conjunto de instrumentos de observação que estão aí a chegar, e nos quais também estamos envolvidos”.
Um desses instrumentos é o Espresso, um espectrógrafo de alta resolução em cuja construção o IA participa e que vai equipar já no próximo ano oVery Large Telescope do ESO (European Southern Observatory), no Chile, para medir com uma precisão sem precedentes as massas dos exoplanetas e melhorar o estudo das suas atmosferas. Outro é o satélite CHEOPS, da agência espacial europeia ESA, para o qual os investigadores do IA estão a desenvolver uma parte do software de análise de dados e que, além de detetar exoplanetas, vai medir também as suas massas. O CHEOPS tem lançamento aprazado para 2019.
Um terceiro instrumento é o satélite Plato, da ESA, que deverá ser lançado em 2024 e que vai procurar exoplanetas rochosos como a Terra e na zona “certa” em relação às respetivas estrelas para terem condições de habitabilidade. A equipa do IA tem um investigador na comissão do consórcio e também no grupo que está a delinear as tarefas científicas do futuro satélite.
Todos eles vão permitir conhecer muito melhor a nova super-Terra agora descoberta, além do que já se sabe. No estudo que hoje publica na revista Nature, a equipa explica que o exoplaneta está dez vezes mais próximo da sua estrela do que a Terra em relação ao Sol, completando uma órbita em 25 dias. Esta proximidade implica que está na zona temperada, uma vez que esta estrela, sendo uma anã vermelha, é muito mais fria do que o Sol.
Pouco maior do que a Terra, tem no entanto 6,6 vezes mais massa, o que indica que será rochoso, com um denso núcleo de ferro.
“É talvez o melhor candidato para procurar as assinaturas químicas da vida, quando houver tecnologias”
NUNO SANTOS CIENTISTA DO INSTITUTO DE ASTROFÍSICA E CIÊNCIAS DO ESPAÇO