Diário de Notícias

Bancos portuguese­s foram dos que menos reduziram rácios de crédito malparado

Queda no total de crédito concedido em Portugal quase anula esforço de reconhecim­ento de imparidade­s feito pelos bancos

- FILIPE PAIVA CARDOSO

“Houve uma redução relativame­nte pequena em países que já tinham dos rácios de malparado mais altos, Itália e Portugal”, alerta FMI

O problema é relativo. Não é que seja de somenos, é mesmo do peso relativo dos créditos vencidos face ao total: como o malparado se mede em função do crédito total, se este último cai tanto ou mais do que o primeiro, então é como se nada tivesse melhorado. Assim se explica a pequena queda relativa do malparado na banca portuguesa para que o FMI alertou ontem.

“Os bancos na Irlanda e em Espanha já registaram bons progressos na redução de non perfoming loans [crédito vencido a mais de 90 dias] desde que atingiram o pico”, começa por apontar o FMI no relatório de estabilida­de financeira. Mas se Irlanda e Espanha são os bons exemplos, Portugal e Itália são os maus: “Houve uma redução relativame­nte pequena, face aos níveis máximos, em dois países que já apresentav­am dos rácios mais elevados, Itália e Portugal, e são necessário­s mais progressos.”

Os bancos em Itália e em Portugal apenas conseguira­m baixar os rácios de malparado em 0,1 e 0,2 pontos percentuai­s, respetivam­ente, desde o seu valor máximo. Estas evoluções chocam com o conseguido pelos restantes países considerad­os (ver tabela), sendo especialme­nte graves porque se trata dos dois países que mais créditos tóxicos tinham (e têm).

A conclusão do FMI parece chocar, à partida, com os dados que vão sendo conhecidos sobre as contas dos bancos que atuam em Portugal – marcadas por altos volumes de imparidade­s. E isto acontece sobretudo por duas razões: primeiro, porque os dados do FMI dizem respeito ao terceiro trimestre de 2016, não refletindo a totalidade do esforço de algumas instituiçõ­es, concentrad­o na reta final do ano. E, segundo, porque o ritmo de concessão de crédito em Portugal continua sem compensar os balanços dos bancos. E isto mexe com a relativida­de do malparado. Um exemplo: o BCP reduziu em 11% o crédito em incumprime­nto de 2015 para 2016. Todavia, como o crédito total concedido baixou 6% no mesmo ano, o rácio de incumprime­nto face ao crédito total recuou 0,46 pontos. O esforço de redução do crédito problemáti­co foi assim mais puxado do que a evolução do rácio aparenta mostrar. Rácios: os piores Além dos problemas com o malparado e da necessidad­e da tomada de medidas decididas para livrar a banca destes maus ativos (ver caixa), o relatório do FMI também critica a falta de uma dieta ainda mais agressiva por parte dos bancos presentes em Portugal.

De acordo com dados de 2015 citados pelo Fundo, os bancos portuguese­s são os que apresentam um menor rácio de ativos por agência bancária e por colaborado­r (ver tabela), com valores bastante distantes da média. Aqui como no malparado, Portugal e Itália surgem no mesmo saco, ao qual acrescenta os bancos espanhóis: “Em Itália, Portugal e Espanha há um grande número de agências ou colaborado­res face ao total de ativos”, sintetiza o FMI, que recomenda uma aceleração nos cortes. Contudo, e desde o final de 2015, vários bancos já intensific­aram e prolongara­m os objetivos das suas reestrutur­ações – corte de agências e do número de trabalhado­res.

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