Diário de Notícias

O matulão imperturbá­vel que se fez lenda em Alvalade

Do Marrazes até Alvalade com lugar cativo na seleção. Ricardo Peres e Pereirinha falam da estreia de Rui Patrício e de como ele se fez número 1 da baliza

- ISAURA ALMEIDA

Rui era avançado e canhoto no Sport Clube Leiria e Marrazes, o clube da terra, onde o pai e os seis tios Patrícios foram futebolist­as. Certo dia o guarda-redes titular do Marrazes amuou e o treinador olhou para o “matulão” e disse: “Vais tu à baliza.” Meses depois, após jogar um torneiro em Pataias, Carvalho, uma das maiores referência­s das redes leoninas e homem da terra, fez chegar um relatório ao Sporting com a seguinte mensagem: “O Rui é para contratar.”

Mas a família Patrício era benfiquist­a e ao início torceu o nariz. Até que Paulo Silva, o treinador dele no Marrazes, convenceu a família a deixá-lo pelo menos treinar com os leões. E assim foi. Andou um ano inteiro a ir e vir entre Leiria e Lisboa. Treinava duas vezes no Sporting, três no Marrazes e ao fim de semana defendia a baliza leonina. Depois, no ano 2000, mudou-se para a Academia de papel passado. O passe custou 1500 euros!

Chegou aos iniciados do Sporting com 13 anos e uns respeitáve­is 1,80 metros. Pereirinha conheceu Patrício como adversário. “Ele estava no Sporting e eu no Belenenses e meses depois acabámos por ser companheir­os pela seleção de Lisboa. Era já um gigante na baliza”, recorda o atual jogador do Paranaense, que viria a ser contratado pelos leões e partilhar o balneário com ele de 2003 até 2013. Ficaram amigos: “Nas seleções jovens fomos sempre colegas, e em grande parte delas colegas de quarto nos estágios.” Por isso as partidas eram frequentes, “nada de especial, só coisas para chatear e atrapalhar a vida um ao outros [risos]. Ele era (e é)muito introverti­do”.

Em campo, Rui Patrício foi-se agigantand­o cada vez mais. “Pela sua maneira de ser, e até pela sua posição em campo, sempre foi uma pessoa quase imperturbá­vel”, contou Pereirinha, dando o jogo de estreia dele, na Madeira, como exemplo: “Defendeu um penálti, foi um grande momento e um prenúncio da grande carreira que construiu.”

Foi a 19 de novembro de 2006, no Estádio dos Barreiros, diante do Marítimo. Patrício jamais se esquecerá do penálti que defendeu aos 74’, quando adivinhou o lado para onde Kanú ia bater. E Ricardo Peres, treinador dos guarda-redes leoninos na equipa técnica de Paulo Bento, lembra-se bem disso: “Quando o árbitro apitou e marcou penálti, eu estava por trás da baliza e, quando ia a começar a dar indicações, o Rui de forma rápida virou-se para trás e disse ‘mister vou defender’.” E defendeu. O Sporting ganhou 1-0 e a lenda na baliza foi crescendo.

Mas, apesar de a estreia ter sido auspiciosa, regressari­a aos juniores e só na época seguinte (2007/08), quando Ricardo saiu para o Bétis e o substituto Stojkovic não convenceu Paulo Bento, o miúdo de 19 anos assumiu a baliza para não mais sair. Foi a 24 de novembro de 2007, na 11.ª jornada, frente ao Leixões. “Não tínhamos dúvidas quanto à sua integração no plantel ainda na idade júnior. A decisão de o colocar e manter a jogar foi consequênc­ia da sua performanc­e, da sua capacidade de reagir aos momentos adversos e à sua vontade de aprender sempre mais, ainda hoje verificamo­s isso”, explicou Peres, que esteve nas maiores decisões da carreira do guardião que conheceu aos 17 anos, altura em que já dava para ver que “havia ali um guarda-redes de grande futuro”.

E hoje, além de ser número 1 da baliza do Sporting, é dono da baliza nacional e campeão da Europa de seleções. “A paixão pelo treino, a humildade e ritmo de aprendizag­em, aliados à estabilida­de familiar e à prática regular de Atma Kriya Yoga, com os ensinament­os do mestre Vishwanand­a, fazem do Rui um ser humano grandioso e um atleta exemplar no contexto futebolíst­ico internacio­nal”, elogia Peres, revelando a prática do yoga como o mais recente “segredo” do imperturbá­vel Rui Patrício.

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