Diário de Notícias

O “gordo” de pontapé forte que sonhava ser o novo Ceni

Dono da baliza chegou à Luz com 15 anos, mas foi no Ribeirão e no Rio Ave que Ederson Moraes mostrou merecer ser número 1 das redes encarnadas

- ISAURA ALMEIDA

Ederson Moraes é natural de Osasco (São Paulo) e deu os primeiros passos no futebol na escola Champions Ebenézer... como lateral esquerdo! Mas um dia faltou um guarda-redes e o treinador resolveu colocá-lo na baliza. No início, não gostou muito, segundo confessou depois, mas em seis meses deu o salto para o Morumbi, em 2008 (ano em que Patrício assume a baliza do Sporting).

Fez um treino e ficou logo no plantel sub-15 do São Paulo. Foi lá, por essa altura, que ganhou a alcunha de “o gordo”, por ser franzino e baixinho. “Era o nome de guerra dele. Chamavam-lhe gordo por ser muito magro e ele não levava a mal. Se perguntare­m quem é o Ederson, ninguém sabe de quem se trata, agora o gordo...”, contou Leonardo Navacchio, guarda-redes do Portimonen­se, que jogou com ele na formação do clube paulista.

De repente o jovem Ederson já sonhava ser o “novo Rogério Ceni”, a grande referência da baliza do São Paulo, mas acabou dispensado. Até que um olheiro que trabalhava com Jorge Mendes (ainda hoje seu empresário) decidiu recomendá-lo. Em 2009 foi convidado para se mudar para Portugal. Tinha 15 anos quando chegou ao Benfica, clube onde o primo Artur Moraes reinava na baliza.

No Seixal, onde integrou as equipas de sub-17 e sub-19, ficou ligado a um momento inesquecív­el na época 2010/11, quando num jogo dos juniores encarnados marcou um golo de baliza a baliza frente ao Sp. Braga, graças a um potente remate de pé esquerdo, que ainda hoje o caracteriz­a. Terminado o ciclo da formação, foi dispensado do Benfica e acabou no Ribeirão, clube que militava na Zona Norte da II Divisão. “Na primeira semana chegou um bocado tímido, mas depois, com os treinos, passou-lhe a timidez e começou a mostrar muita qualidade. Fiquei admirado por ter sido dispensado do Benfica. Apesar de ser júnior mostrava muita maturidade, fazia lembrar um experiente guarda-redes, muito tranquilo na baliza e com muita vontade de treinar e de aprender”, recorda Vitor Alcino, o treinador do benfiquist­a no Ribeirão, que na altura ficou “impression­ado” com as capacidade­s de Ederson. Principalm­ente “a frieza com que abordava os lances complicado­s e os tornava fáceis”, além de ser “formidável entre os postes”.

Era bom com os pés e “tentou” ser o marcador de livres da equipa: “Ainda marcou alguns, mas não chegou a fazer golos. Foi preciso dizer -lhe que não podia bater por bater, tinha de o fazer com critério. Ele num pontapé de baliza colocava a bola no outro guarda-redes... era um lance desperdiça­do.” Melhorou e Alcino, atual treinador de guarda-redes do Famalicão, começou a perceber que o guardião não ia ficar lá muito tempo. “Não deu hipóteses” e relegou António Marafona (irmão de Marafona, do Sp. Braga), então com 31 anos, para o banco.

O Ribeirão foi o trampolim para o Rio Ave, clube contra o qual fazia muitos jogos-treino com a equipa de Famalicão e lhe abriu as portas da Liga. O passe custou “uns 25/30 mil euros”. Em Vila do Conde começou por ser suplente de Jan Oblak, que iria depois substituir na Luz.

Tal como em Vila do Conde, na Luz começou como suplente do experiente Júlio César, mas uma lesão do internacio­nal brasileiro na véspera de um dérbi em Alvalade, a 5 de março de 2016, colocou-o à prova. E a partir daí ganhou o direito a defender a baliza do Benfica. “O segredo? Está na mentalidad­e. Tudo começa aí. Não desistam. Muito foco e muita força de vontade. Trabalhei muito para chegar onde estou hoje e esta mensagem é também para eles (jovens da formação). Não desistam e corram atrás do sonho”, defendeu, em janeiro, o guarda-redes de 23 anos, após renovar contrato até 2023, dias depois de ser chamado à seleção brasileira pela 1.ª vez.

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