A mulher sem medo
Aacreditar nas sondagens que vão sendo publicadas, Theresa May é quem mais tem a ganhar com as legislativas antecipadas marcadas para 8 de junho no Reino Unido. Não só deverá reforçar a maioria absoluta dos conservadores, como provará que é primeira-ministra de pleno direito, legitimada pelo voto, tal como foi há três décadas Margaret Thatcher, a pioneira das chefes de Governo na Europa. Assim, a mulher que no ano passado sucedeu a David Cameron, quando este bateu com a porta após a vitória do brexit no referendo, terá mais condições para negociar os termos da rutura com a União Europeia.
Mas a votação esmagadora ontem na Câmara dos Comuns a favor da antecipação da ida às urnas mostra que há mais líderes britânicos interessados em testar as urnas, a começar por Jeremy Corbyn. Para o homem que chefia os trabalhistas, com um historial de revoltas internas por ser considerado demasiado à esquerda, a eleição pode finalmente esclarecer se as suas propostas contam com apoio popular ou se, como dizem os seus críticos, o centro lhe irá virar costas em números arrasadores. As sondagens dão apenas 23% aos trabalhistas, mas isso parece não desanimar nada Corbyn, que acredita poder bater May.
Quanto aos liberais-democratas, volta a ir às urnas é o menor dos seus problemas. Em 2015 pagaram caro os cinco anos de coligação com os conservadores, pelo que agora a ideia é que só podem mesmo melhorar resultados, reforçando o grupo parlamentar. Já os nacionalistas escoceses, que tiveram um resultado extraordinário há dois anos, sabem que correm riscos de perder alguns deputados para os trabalhistas, mas ao mesmo tempo acreditam que podem obter um voto que reforce a sua legitimidade para pedir novo referendo sobre a independência.
Será de novo um junho quente este no Reino Unido, embora não tão escaldante como o do ano passado, que viu o brexit triunfar no referendo de dia 23. Para o resto da Europa interessa sobretudo com que força May sairá do teste que ela própria quis. Mas esta não é mulher para ter medo.