Diário de Notícias

ROBERTO CARLOS

A FESTA DOS 76 ANOS DO CANTOR FOI NO MEO ARENA E COMEÇOU COM EMOÇÃO

- MARINA ALMEIDA

Passa das oito da noite e o trânsito está impossível no acesso ao Parque das Nações, em Lisboa. Junto à Meo Arena o ambiente contrasta com a confusão automobilí­stica. As filas de gente fluem, ordenadas, serpentean­do escadaria acima. “O acesso ao balcão é por aqui”, gritam os seguranças fluorescen­tes, encaminhan­do a multidão. Um homem-cartaz anuncia o derradeiro filme de Nicolau Breyner, o múpi pergunta-lhes se sabem quanto vale a casa deles, as meninas distribuem os folhetos para os concertos que hão de vir. Mas ninguém parece ver. A multidão segue. Há quem pareça que vai para um casamento, com vestidos brilhantes, saltos altos e cabelos armados, há quem coma uma sandes apressada ainda a tirar o cartão do emprego do peito.

No cimo das escadas, Rosa Paula Penedos canta para a equipa de reportagem da TV Globo. Tem 52 anos e exibe, orgulhosa, um cartaz. “Amo-te”, escrito a dourado e em relevo. É um trabalho de artes ma- nuais da amiga Paula, que, depois, também fala para a câmara. Fez as letras em “espuma expansiva” e pintou-as de dourado. Junto à cena, uma jovem aguarda, esconde a cara e ri-se nervosa. É Carolina, filha de Rosa Paula. “A minha filha é a única que não conhece as músicas todas”, diz a mãe bem-disposta, naquele compasso de espera mediático antes de se instalar no balcão um setor 13. Comprou os bilhetes em dezembro, “não fossem esgotar”, e ontem lá estava, para cantar os Parabéns pelos 76 anos de Roberto Carlos.

O repórter da Globo pede-lhe para voltar à câmara: “Diga algo lá para o Brasil.” Rosa Paula parece que nasceu para aquilo e diz, olhar fixo no vidro como quem mira um brasileiro especial: “Eu te amo! Tudo de bom, Rei!”

Ninguém lhe pode pedir mais e elas seguem viagem, que se aproximam as 21.00, hora marcada para o início do espetáculo. Rosa Paula, auxiliar no Hospital de Santa Cruz, vai aparecer no domingo à noite a milhões de brasileiro­s no programa da Globo Fantástico, é quase certo. O jornalista diz que ela é “óti- ma, canta lindamente, resulta muito bem em televisão.” Está a preparar uma edição dedicada a Roberto Carlos, que “pela primeira vez faz o aniversári­o fora do Brasil”. A música Sereia, do seu mais recente álbum, lançado em abril, na banda sonora da novela da Globo A Força do Querer, é um dos sucessos do momento no Brasil. Um álbum que surpreende­u os fãs e no qual faz um dueto com Jennifer Lopez, que canta em português.

Aquela novela das nove ainda não atravessou o Atlântico. Mas ontem, à hora das novelas da noite, alguns milhares de sofás ficaram vazios. A fila seguia no Parque das Nações. Surge Elisabete, com um cachecol ao peito. Vem de Barcarena e é uma repetente – tal como Rosa, que já vira Roberto Carlos em Lisboa em 2015. “Só te- nho pena de nunca ter apanhado a rosa” que ele atira no final dos concertos. Ao peito, no cachecol, tem uma rosa vermelha com a fotografia do cantor romântico. “Sou superfã. Quando alguém me liga, toca Esse Cara Sou Eu no telemóvel.”

Segue para a sala de espetáculo­s enquanto ao fundo das escadas rolantes do Centro Comercial Vasco da Gama uma vendedora ambulante de cachecóis de Roberto Carlos tenta a sorte com quem ali desagua. Torce o nariz, que o negócio corre mal, mas logo acaba a conversa quando Raquelina lhe salta ao caminho. “Quero aquele em que ele tem mais caretas”, diz com um enganador português açucarado. Veio de Viseu, onde nasceu e onde mora há mais de 20 anos. Foi com 5 anos para o Brasil – Rio de Janeiro e São Paulo – e parece ter trazido o país no linguajar e na alegria. Segue com o cachecol ao peito. Do cantor, que tanto admira, espera “tudo”. Os novos e os velhos êxitos. E cantar-lhe os parabéns. “Claro”.

Esta é uma noite especial. Já passa das nove e Rosângela está sentada sozinha num banco, de costas para a Meo Arena, a fazer uma selfie. Vestiu-se de negro, decote acentuado, maquilhou-se e vai entrar, calmamente. “Bebi uma caipirinha e vou encher o peito para cantar ao Rei. Sim, porque ele é um rei.” Tem 30 anos, vive em Portugal há dez e espera nesta noite “reviver o Brasil”. Tem lá a família.

Parece que adivinhava. Teve o seu tempo para subir, qual manequim, equilibran­do-se nos saltos esguios, a escadaria de acesso à arena e depois tomou, bem a tempo, o seu lugar. O rei de Rosa Paula, de Elisabete, de Raquelina e de Rosângela só começaria a cantar às 21.35. Emoções. “Se chorei/ Ou se sorri/ O importante/ É que emoções eu vivi.”

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 ??  ?? Roberto Carlos na noite do seu 76.º aniversári­o, na Meo Arena. Em baixo, Elisabete feliz com o cachecol acabado de comprar e Rosa Paula com o cartaz com que presenteia o cantor naquela noite especial
Roberto Carlos na noite do seu 76.º aniversári­o, na Meo Arena. Em baixo, Elisabete feliz com o cachecol acabado de comprar e Rosa Paula com o cartaz com que presenteia o cantor naquela noite especial

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