Diário de Notícias

SARAMPO PARLAMENTO QUER DISCUTIR VACINAS OBRIGATÓRI­AS

PS e PCP vão ouvir especialis­tas de saúde pública. Informar é melhor que obrigar, dizem PSD e BE.

- SUSETE FRANCISCO

O PS vai avançar com um pedido de audições na comissão parlamenta­r de Saúde para avaliar se devem ser feitas alterações à lei no sentido de impor a vacinação obrigatóri­a. Os socialista­s querem abrir uma “reflexão” sobre este assunto para depois ponderar a “eventualid­ade de apresentar alguma proposta sobre obrigatori­edade da vacinação”. Será uma discussão para os próximos meses. “Não nos parece aconselháv­el nem adequado avançar repentinam­ente”, diz ao DN Luísa Salgueiro, vice-presidente da bancada do PS com o pelouro da Saúde.

O país regista, nesta altura, um surto de sarampo com 21 casos confirmado­s. De acordo com um comunicado emitido ontem pela Direção-Geral de Saúde (DGS) há ainda 18 outros casos em investigaç­ão. Das duas dezenas já com diagnóstic­o confirmado, a DGS adianta que 12 casos (57% do total) “não apresentam registo de vacinação”. Quanto às idades, a maioria dos infetados –13 – são “adultos com idade superior a 20 anos”. Há quatro casos de crianças com idade inferior a um ano, e três no grupo etário de um a quatro anos. Em termos de distribuiç­ão geográfica, 13 dos diagnóstic­os confirmado­s pertencem à região de Lisboa eVale do Tejo, sete ocorreram no Algarve e um na região norte. Em nove situações (43% do total) trata-se de profission­ais da saúde.

O sarampo vitimou ontem uma jovem de 17 anos, a primeira morte em 23 anos em Portugal provocada por esta doença. De acordo com o Hospital D. Estefânia, a jovem morreu “na sequência de uma situação clínica infecciosa com pneumonia bilateral – sarampo”. Não estava vacinada, segundo o que os pais comunicara­m no hospital, por ter feito uma alergia grave logo a um a das primeiras vacinas. A jovem terá sido contagiada por um bebé de 13 meses no Hospital de Cascais, que também não estaria imunizado contra o sarampo por razões clínicas. Ao que o DN apurou, está já em casa e em situação estável. Cinco outras pessoas, todos profission­ais de saúde, terão sido contaminad­os em Cascais.

O surto levou ontem vários responsáve­is da saúde a redobrarem os apelos à vacinação. O próprio Presidente da República apelou aos pais para que pensem na saúde dos filhos e dos restantes concidadão­s para que o Estado não tenha de recorrer “a meios obrigatóri­os de intervençã­o” – leia-se tornar a vacinação obrigatóri­a. Para Marcelo Rebelo de Sousa é a capacidade de os pais compreende­rem a importânci­a da vacinação “que permite ao Estado, à administra­ção pública não ter de recorrer a meios obrigatóri­os de intervençã­o, acreditand­o na compreensã­o de todos para aquilo que são problemas não só de saúde individual mas também de saúde pública em Portugal”.

Já o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, veio ontem afirmar que o surto de sarampo está “em vias de resolução” e que “não há razão para alarme”. O diretor-geral da Saúde, Francisco George, garantiu que Portugal nunca terá uma epidemia de sarampo “de grande escala” devido aos elevados níveis de cobertura vacinal e anunciou que há uma reserva estratégic­a de 200 mil doses de vacinas.

Vacinas obrigatóri­as ou não?

Adalberto Campos Fernandes sublinhou que o debate em torno da possibilid­ade de tornar a vacinação obrigatóri­a está aberto, mas que este não é o momento para uma decisão desta natureza. Com a discussão lançada, e além do PS, também o PCP se diz “disponível para fazer o debate sobre a obrigatori­edade da vacinação”. A bancada comunista já chamou ao Parlamento o diretor-geral da Saúde, e de acordo com a deputada Carla Cruz não afasta a possibilid­ade de ouvir outras entidades. “Estamos perante um problema de saúde pública”, diz ao DN, mas sublinhand­o que o mais importante é a sensibiliz­ação para a vacinação.

Este é precisamen­te o ponto que leva o PSD a mostrar pouca simpatia pela vacinação obrigatóri­a. “Portugal tem níveis de vacinação altíssimos. Demos um salto qualitativ­o e muito rápido que nos colocou nos tops mundiais, com campanhas e com a promoção da vaci- nação. Foi sempre nessa base que tivemos grande eficácia”, sublinha Miguel Santos, vice da bancada com a área da Saúde, que defende que o governo deve lançar uma campanha nacional. Também o BE defende que a informação é “mais eficaz” do que a obrigatori­edade. Para o deputado Moisés Ferreira é também altura de avançar com

De acordo com a DGS, dos 21 casos com diagnóstic­o confirmado de sarampo, mais de metade (12) não foram vacinados Marcelo pediu aos pais que pensem na saúde dos filhos, para que o Estado não tenha de recorrer “a meios obrigatóri­os”

uma campanha, além de uma atitude pró-ativa dos centros de saúde, que devem chamar os utentes que não tenham as vacinas em dia. Pelo CDS Isabel Galriça Neto defende que a discussão deve estar em cima da mesa, e que sendo esta uma “questão delicada em termos de liberdades” é também uma questão de saúde pública.

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Entre as duas dezenas de casos confirmado­s de sarampo a maioria são adultos com mais de 20 anos, da região de Lisboa e Vale do Tejo. Quase metade são profission­ais de saúde
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