Diário de Notícias

Governo vai melhorar proposta para reformas antecipada­s

Patrões e sindicatos de acordo sobre pensão sem penalizaçã­o para quem descontou 40 anos. Costa defendeu condições melhores do que os 48 anos de trabalho. Governo ainda está a ouvir parceiros, mas o DN sabe que vai fazer oferta mais generosa a 4 de maio.

- LUCÍLIA TIAGO

O governo vai fazer alterações à proposta do regime de reformas antecipada­s que irá levar à concertaçã­o social no início de maio. O novo texto deverá acomodar algumas das reivindica­ções dos parceiros sociais, nomeadamen­te uma versão mais generosa nas saídas antecipada­s sem penalizaçã­o, baixando a fasquia que na versão atual está nos 48 anos de descontos. Sindicatos e patrões defendem 40 anos de descontos.

As alterações que estão a ser estudadas não estão ainda estabiliza­das porque o governo está a receber os contributo­s dos parceiros, mas o texto final é apresentad­o a 4 de maio, segundo adiantou ao DN/Dinheiro Vivo fonte do governo.

Nos documentos que têm servido de base à discussão com os parceiros sociais, prevê-se que a reforma antecipada sem qualquer pe- nalização apenas possa ocorrer quando uma pessoa reúne a dupla condição de ter 60 anos e 48 de descontos. Na semana passada, o primeiro-ministro, António Costa, admitiu já uma solução mais generosa, ao reconhecer que “os que começaram a trabalhar aos 12 e aos 14 anos se podem reformar aos 60 sem penalizaçã­o”, abrindo assim a porta, a que a fasquia desça para os 46 anos de carreira.

Esta descida poderá ser uma das alterações que está a ser equacionad­a, mas não será suficiente para que os parceiros sociais deixem cair as exigências. No parecer que fez chegar ao governo, a UGT classifica de “redutor” o modelo proposto e defende que uma pessoa com 60 anos e 40 de carreira contributi­va “deve poder reformar-se sem qualquer penalizaçã­o”, ainda que admita que tal possa exigir uma “ponderação em função da densidade contributi­va efetiva da sua carreira”. Carlos Silva, secretário-geral da UGT, não concorda ainda que se balize nos 60 anos o acesso à reforma antecipada, defendendo que deve manter-se a possibilid­ade de quem tenha menos idade sair, escolhendo ter uma penalizaçã­o.

O facto de o governo ter anunciado que o novo regime será aplicado de forma faseada, sem adiantar mais detalhes, desagrada à UGT, que aproveita para exigir a introdução de valores mínimos para as pensões atribuídas ao abrigo dos regimes de antecipaçã­o. A central quer também saber qual foi o critério usado para atribuir uma idade de reforma “pessoal” em função da carreira contributi­va.

A CGTP também saúda o fim do corte do fator de sustentabi­lidade, mas critica a manutenção da penalizaçã­o de 0,5% e exige a sua eliminação. Mais, o acesso à reforma sem penalizaçõ­es deve acontecer aos 60 anos e 40 de descontos, e a idade legal da reforma deve regressar aos 65 anos. O anunciado faseamento sem mais explicaçõe­s também preocupa a CGTP, que quer ver a “situação clarificad­a” e avisa já “que não aceita que a entrada em vigor das medidas seja protelada no tempo.

O facto de os desemprega­dos de longa duração e dos funcionári­os públicos que descontam para a CGA não estarem contemplad­os nestas novas regras também é criticado. Ambos têm regimes próprios, e, ao ficarem de fora, manterão o corte (atualmente quase nos 14%) por via do fator de sustentabi­lidade.

António Saraiva, presidente da Confederaç­ão Empresaria­l de Portugal (CIP), optou por não enviar ao governo sugestões de alterações ao regime porque, afirmou ao DN/Dinheiro Vivo, quer primeiro perceber e ter dados que permitam aferir quantas pessoas são abrangidas. “A CIP defende há vários anos o acesso à reforma antecipada sem penalizaçõ­es aos 60 anos e 40 de descontos, pelo impacto que isso pode ter no rejuvenesc­imento de quadros. Mas para nós também é importante assegurar a sustentabi­lidade da Segurança Social”, precisa.

À luz destas duas premissas, os patrões entendem que mais relevante do que propor alterações seria pedir ao governo modelos quantifica­dos dos vários segmentos de pessoas que possam estar em condições de beneficiar do novo regime. Só com base nestes dados será possível equacionar soluções que não sejam absurdas, do ponto de vista da sustentabi­lidade.

Os parceiros sociais já tinham questionad­o o governo sobre o universo de pessoas em causa, mas o ministro Vieira da Silva remeteu a análise destes dados para a próxima reunião da concertaçã­o social. Ainda assim, adiantou que estão em causa “vários milhares” de trabalhado­res.

“É a visão que temos de solidaried­ade entre gerações. Em que os que começaram a trabalhar aos 12 ou aos 14 anos se possam reformar aos 60 sem penalizaçã­o”

ANTÓNIO COSTA

PRIMEIRO-MINISTRO

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Na reunião de 4 de maio da concertaçã­o social, Vieira da Silva deverá apresentar proposta mais generosa para as reformas antecipada­s

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