Diário de Notícias

Só um final como na época de Calabote pode roubar o tetra

Em 1958-59, FC Porto foi campeão recuperand­o três pontos ao Benfica nos últimos quatro jogos. Águias já falharam quatro vezes o tetra

- BRUNO PIRES

História vai haver sempre seja qual for o campeão da edição 2016-2017 da I Liga. O Benfica segue na frente, com mais três pontos do que o FC Porto a quatro jornadas do final, rumo ao objetivo inédito de alcançar o tetracampe­onato.

O clube da Luz teve quatro oportunida­des para somar quatro campeonato­s consecutiv­os, mas falhou em 1965-66, 1969-70, 1973-74 e 1977-78. Nas três das últimas épocas mencionada­s pertencia ao plantel dos encarnados Toni. “Eu só estive em três, mas já reparou que foi sempre em ano de Mundial?”, pergunta o antigo futebolist­a e treinador do Benfica, dupla condição em que se sagrou campeão.

“Agora fala-se muito mais no tetra do que se falava nesses anos, mas também havia menos rádios, menos televisões, olhe... menos gente. Estivemos sempre à porta, mas não aconteceu. E não aconteceu porquê? Porque os outros foram melhores. Essa é a razão”, resume Toni.

Se em 1965-66 o Benfica perdeu o campeonato por um singelo ponto para o Sporting e tinha sido líder a quatro jornadas do final, em 1969-70 e 1973-74 não esteve uma única ronda no comando. Mais... em 1969-70 limitou-se a discutir o segundo lugar com oV. Setúbal de José Maria Pedroto, ao passo que em 1973-74 o campeonato foi muito disputado e o Benfica só não conseguiu chegar à frente porque foi derrotado pelos despromovi­dos Leixões e Barreirens­e. Conseguiu vencer duas vezes o campeão Sporting, com o encontro de Alvalade – no primeiro dérbi pós-25 de Abril – a realizar-se a quatro jornadas do fim... tal como agora. Mas, então, os encarnados venceram sem margem para dúvidas por 5-3. “E o Marcelo Caetano foi ver o jogo... não sei se era sportingui­sta”, diz Toni.

A última oportunida­de deu-se em 1977-78 e o Benfica ficou em segundo sem perder qualquer partida. Terminou com os mesmos pontos que o FC Porto de Pinto da Costa e de Pedroto, que acabariam por fazer a festa do título após 19 anos de jejum. Foi líder durante 11 rondas (entre a 7.ª e a 18.ª jornadas), mas os empates no Restelo e na Póvoa deVarzim relançaram os dragões. A duas jornadas do fim o clássico entre FC Porto e Benfica acabou empatado a um golo com o empate a surgir a sete minutos do final... através do portista Ademir. E lá se ia, mais uma vez, o sonho do tetra. FC Porto agarra-se ao mito O mito tem ganho dimensão. Quando se fala de Calabote associa-se imediatame­nte a um benefício arbitral em favor do Benfica, mas a fama de Inocêncio Calabote – assim se chamava o homem do apito – até foi adquirida num campeonato ganho pelo FC Porto, quando os dragões, a quatro jornadas do final, tinham menos três pontos do que o Benfica. E na última jornada, com tudo empatado, Inocêncio Calabote apitou o encontro que os encarnados triunfaram, em casa, perante a CUF (7-1), enquanto o FC Porto em Torres Vedras batia o Torreense por 3-0 com dois golos em cima do minuto 90 e já após duas expulsões dos locais. No final, os dragões festejaria­m o campeonato por terem 59 golos de saldo positivo, mais... um do que o Benfica. Logo, o ano de Calabote é uma boa memória para os portistas.

Esta foi a primeira de duas vezes que uma equipa ainda conseguiu ser campeã nacional na mesma situação em que está o FC Porto presenteme­nte; menos três pontos do que o comandante, com quatro jornadas por disputar. E a única sem contar com um confronto direto para encurtar distâncias.

A outra recuperaçã­o, também do FC Porto e também face ao Benfica, foi em 2012-2013. Os encarnados “ajudaram”, com um empate em casa com o Estoril (ironia, o próximo encontro dos encarnados), e depois Kelvin deu um pontapé que deixou Jesus de joelhos.

“Metemos na cabeça que era possível e que só havia uma solução... acreditar até ao fim. O que nós fizemos em 2013 é o que esta equipa do FC Porto tem de fazer. Se já foi demonstrad­o que é possível, por que não acreditar? Tudo pode acontecer”, diz ao DN Fernando,

“Sempre quisemos fazer o tetra e ficámos tristes quando não o conseguimo­s, mas agora há muito mais ênfase” TONI ANTIGO JOGADOR E TREINADOR DO BENFICA “O melhor seria se o FC Porto estivesse na frente, mas só tem de ganhar e esperar que o Benfica escorregue. É possível” FERNANDO EX-FC PORTO, ATUAL JOGADOR DO MAN. CITY

atual futebolist­a do Manchester City.

E o médio lembra a intervençã­o deVítor Pereira no culto diário da fé na recuperaçã­o. “Ele dizia que era possível, dizia sempre isso. Nunca deixou de nos passar uma mensagem de que precisávam­os de lutar e foi isso que aconteceu. Agora, o Dragão tem de acreditar até ao último minuto da última jornada. E sinto que há uma possibilid­ade grande de o FC Porto ser campeão. Com o confronto direto empatado, como o FC Porto tem melhor diferença de golos, pode perfeitame­nte chegar em primeiro no fim”, explica Fernando, bem informado sobre a atualidade da I Liga, na qual tem visto um FC Porto a realizar “uma boa temporada”.

O pincel de Vila do Conde

Rebobinemo­s a cassete. Comparando esta edição do campeonato com as das quatro oportunida­des falhadas pelo Benfica de ser tetra, esta é talvez a que está pintada com tons mais cor-de-rosa. Mas Toni não acredita nisso. “O Benfica tem de vencer três jogos e pode empatar um. Não pode empatar dois. Agora recebe o Estoril, e já tem a amostra da Taça [3-3 na Luz], e depois tem um pincel frente ao Rio Ave, que é a equipa que melhor está a jogar atualmente. As “facilidade­s” estão aí à mostra. A tolerância que tem é um empate. Não pode perder um jogo nem empatar dois”, sustenta a velha glória encarnada, que vê na experiênci­a dos futebolist­as do Benfica uma vantagem. “Isto conquista-se. Quantos títulos ganhou o Luisão nos primeiros oito anos de Benfica? Há uma base maior de jogadores habituados a ganhar, é preciso ter gente habituada a estes momentos e o Benfica hoje em dia tem uma mescla de gente habituada a ganhar com gente jovem, mas esta meta é de uma exigência física e mental muito grande”, finaliza.

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 ??  ?? Rui Vitória (em cima) pode entrar na história do Benfica como o treinador do primeiro tetra para o clube da Luz. A menos que Nuno (em baixo) se inspire na época do famoso Calabote
Rui Vitória (em cima) pode entrar na história do Benfica como o treinador do primeiro tetra para o clube da Luz. A menos que Nuno (em baixo) se inspire na época do famoso Calabote
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