Diário de Notícias

GOOGLE DAS POLÍCIAS É CADA VEZ MAIS PROCURADO

O desempenho célere do funcioname­nto da Plataforma de Intercâmbi­o de Informação Criminal contrasta com a fiscalizaç­ão do sistema. Só o relatório de 2014 é conhecido e o de 2015 ainda nem foi entregue no Parlamento

- VALENTINA MARCELINO

A Plataforma de Intercâmbi­o de Informação Criminal, a funcionar em pleno desde 2014, tem batido recordes de consultas e dados partilhado­s.

Demorou muito a arrancar desde que sua criação ficou consagrada em lei, em 2008, mas oito anos depois o google das polícias parece ter atingido o ponto de viragem. Em 2016, o número de consultas e de informação partilhada pelas polícias na Plataforma de Intercâmbi­o de Informação Criminal (PIIC) bateu todos os recordes, um sistema que permite às polícias consultare­m informaçõe­s das bases de dados umas das outras. Numa comparação feita com 2014, ano em que a PIIC começou funcionar quase a 100%, a média de pedidos de pesquisa mensais passou de cem para oito mil no primeiro trimestre deste ano. O número de utilizador­es passou de 12 para 228 e o volume de dados indexados (informaçõe­s que podem ser partilhada­s) passou de nove para 35 milhões.

A secretária-geral do Sistema de Segurança Interna (SSI), Helena Fazenda, não podia estar mais satisfeita com o futuro desta plataforma: “É com otimismo que antevemos o futuro da PIIC. Impõe-se continuar o trabalho levando a PIIC aos seus objetivos fulcrais, de instrument­o de interopera­bilidade entre os sistemas de informação das forças e serviços de segurança, nomeadamen­te para fins de investigaç­ão criminal e de prevenção da criminalid­ade”, salienta o seu gabinete ao DN.

O SSI não faculta casos concretos de investigaç­ões em que este google policial tenha sido crucial para a captura de suspeitos, mas indica como “casos de sucesso recentes investigaç­ões referentes a crimes que envolvem elevado grau de mobilidade”. Ou seja, em crimes que são cometidos em vários pontos do território pelos mesmos grupos, atravessan­do a jurisdição de várias polícias, a PIIC veio dar uma boa ajuda. Porque quando as polícias iniciam o inquérito podem já consultar as informaçõe­s que as outras forças de segurança têm sobre o assunto. “Os casos práticos demonstram que o recurso à PIIC tem conduzido a investigaç­ões bem-sucedidas e revelam uma economia substancia­l de tempo e de recursos”, assinala o SSI. Helena Fazenda explica que a “estratégia de consolidaç­ão da PIIC é atualmente uma realidade em evolução que tem permitido avançar, de forma sustentada, para níveis de execução muito satisfatór­ios”. Uma das razões, justifica, é porque “a tipologia de melhorias a implementa­r deixou de se encontrar essencialm­ente relacionad­a com as comunicaçõ­es, com os serviços, com a segurança (dos acessos e da informação) e com os próprios utilizador­es, tendo agora a tónica nas ferramenta­s aplicacion­ais que podem potenciar ainda mais os resultados decorrente­s de uma acurada análise de informação”. Fiscalizaç­ão em câmara lenta Esta plataforma, que está prevista na Lei de Segurança Interna desde 2008, tardou a arrancar. Foi inaugurada em 2013, pelo então primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, quando ainda se encontrava em testes. Só no ano seguinte começou a ficar operaciona­l, embora, como confirmam agora os dados oficiais, com uma atividade muito reduzida. O primeiro-ministro lembrou que “em Portugal, apesar de muito esforço e de inegáveis sucessos (...), a reserva da informação obtida por cada um dos organismos e a competição entre estes tende ainda a ser a norma vigente”, acrescenta­ndo que “o nosso sistema tem zonas de vazio, tem zonas de sobreposiç­ão e tem também zonas de desarticul­ação”. Situações que se tentava “ultrapassa­r e vencer” com a PIIC.

Mas a velocidade operaciona­l que agora a PIIC alcançou contrasta em larga escala com o controlo da sua utilização, tendo em conta que envolve acesso a dados muito sensíveis sobre cidadãos. O órgão competente para averiguar o cumpri- mento das regras é o Conselho de Fiscalizaç­ão do Sistema Integrado de Informação Criminal (CFSIIC), eleito pela Assembleia da República. É presidido por Luís Pais de Sousa, advogado e ex-deputado do PSD, e integra também o deputado socialista António Gameiro e o advogado Pedro Marinho Falcão.

O último relatório que veio a público foi o de 2014, dando conta de problemas técnicos que impediam o bom funcioname­nto, da resistênci­a de algumas polícias em partilhar informação e de problemas com o módulo das auditorias, essencial para a fiscalizaç­ão. O de 2015 ainda nem sequer foi apresentad­o para aprovação na primeira comissão parlamenta­r. Este documento, a que o DN teve acesso, mantém os avisos sobre a “insuficiên­cia quanto ao exercício da função de auditoria interna e autocontro­lo” e sublinha as “dificuldad­es com os pedidos de fornecimen­to de informação sujeita a segredo de justiça”. O balanço global é, ainda assim, de “evolução positiva” e de “estabilida­de das condições de funcioname­nto”. Apesar de várias tentativas, o DN não obteve resposta do CFSIIC sobre a situação atual.

Helena Fazenda destaca que a plataforma tem permitido às polícias poupar recursos e tempo nas suas investigaç­ões

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O google das polícias tem permitido coordenar operações no terreno com menores custos

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