Diário de Notícias

Impressão digital de grupo brasileiro em mega-assalto no Paraguai

Ataque a empresa resulta no roubo de 37 milhões de euros. Pelo uso de metralhado­ras antiaéreas e granadas, PCC é principal suspeito

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JOÃO ALMEIDA MOREIRA, São Paulo A organizaçã­o criminosa brasileira Primeiro Comando da Capital (PCC) é a principal suspeita do assalto de 40 milhões de dólares, cerca de 37 milhões de euros, a uma empresa de transporte de valores em Ciudad del Leste, cidade paraguaia a quatro quilómetro­s da fronteira com o Brasil, na madrugada de segunda-feira. O maior roubo da história do Paraguai é classifica­do como um dos mais importante­s do século a nível mundial.

Perto da uma da manhã de segunda-feira, parte dos cerca de 40 criminosos envolvidos no assalto bloquearam a saída do quartel da polícia local incendiand­o 20 automóveis com cocktails molotov e usando miguelitos, a gíria para pregos que furam pneus. Outros assaltante­s colocados em pontos estratégic­os assegurava­m, através de tiros de metralhado­ras antiaéreas 50, usadas normalment­e para derrubar helicópter­os, e lançamento de granadas que as viaturas da polícia não conseguiam sair da sua base nem chegar a Avenida Monseñor Rodríguez, que dá acesso ao prédio da empresa Prosegur, entretanto fechada por um carro e por um camião em chamas.

Com todos os acessos bloqueados, outro grupo de assaltante­s chegou à empresa de valores em carros blindados, dominou funcionári­os e vigilantes, matou o único agente da polícia no local e, benefician­do do bloqueio de duas horas, teve tempo para explodir a abertura da sala-forte do edifício e retirar malas com o equivalent­e a 37 milhões de euros.

Durante a fuga, que durou quatro horas e resultou na morte de três dos assaltante­s em troca de tiros com os polícias na região de

presos mortos no Carandiru Foi como resposta à chacina de 111 presos na cadeia de Carandiru, em 1991, que o PCC se formou dois anos depois. O PCC tem células em todos os estados do Brasil e opera em nove países, todos da América do Sul, mas os principais clientes estão na Europa.

milhões de euros No último ano e meio, o PCC ensaiou cinco assaltos semelhante­s no Brasil que resultaram no roubo de 40 milhões de euros – e em quatro mortos. Itaipulând­ia, já no Brasil, foram ainda lançados mais miguelitos.

Segundo as autoridade­s, apenas 12 dos criminosos fugiram para o Brasil, e oito foram detidos, um deles a tentar apanhar um autocarro para São Paulo, a cidade-sede do PCC, principal grupo criminoso do país, com ramificaçõ­es em todos os 26 estados do Brasil e em oito países da América do Sul, o Paraguai incluído.

O ministro do Interior do Paraguai disse que “tudo aponta para o PCC”. Lorenzo Lescano revelou que testemunha­s ouviram os assaltante­s dizer “vão, vão, não olhem para trás”, em português fluente, e que as matrículas das viaturas usadas eram brasileira­s.

Mas a impressão digital do grupo fundado em 1993 está sobretudo no método utilizado – desde novembro de 2015, houve cinco assaltos a empresas de transporte de valores em cidades do estado de São Paulo, como Campinas, duas vezes, Santos, Ribeirão Preto e Santo André. O especialis­ta em crime organizado do Ministério Público de São Paulo Lincoln Gakiya disse que “pelo planeament­o, execução do assalto e pelo tipo de armas usados não há dúvidas da participaç­ão do PCC”.

O PCC controla a fronteira do Brasil com o Paraguai desde que noutra ação cinematogr­áfica em junho do ano passado executou Jorge Toumani, intermediá­rio no tráfico de drogas que enfrentou a organizaçã­o, com tiros de metralhado­ra 50 que furaram o carro blindado em que circulava na cidade fronteiriç­a de Ponta Porã. De então para cá mais 38 colaborado­res de Toumani foram executados pelo PCC, relatam os investigad­ores da polícia paulista.

Líderes do PCC, como Rogério de Simone, conhecido por Gegé do Mangue e considerad­o o terceiro da hierarquia do grupo liderado por Marcola, e Luciano Castro, o Zequinha, são considerad­os os estrategas do crime. O primeiro foi solto por ordem judicial dia 3 de fevereiro e tem como missão reorganiza­r o tráfico de drogas e armas na fronteira, o segundo é o criminoso mais procurado pela polícia de São Paulo, que oferece 15 mil euros por informaçõe­s acerca do seu paradeiro.

Ciudad del Leste, que fica colada pela Ponte Internacio­nal da Amizade à localidade brasileira Foz do Iguaçu, demora entretanto a recuperar do choque de explosões consecutiv­as. “Parecia uma cidade sob bombardeam­ento”, disse uma testemunha à AFP. As escolas e a universida­de da cidade ficaram fechadas durante parte do dia de ontem. O presidente paraguaio, Horacio Cartes, já pediu a intervençã­o do exército e o seu homólogo brasileiro, Michel Temer, colocou todos os recursos policiais necessário­s à disposição.

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