Diário de Notícias

“Efeito Marcelo” no 25 de Abril

- PAULO TAVARES

“Maior criação de riqueza e melhor distribuiç­ão.” Com uma frase, o Presidente deixou ontem no Parlamento, na sessão solene de comemoraçã­o do 25 de Abril, um guião para o que resta da legislatur­a, para os próximos dois anos e meio. No essencial, a ambição de Marcelo Rebelo de Sousa para o país resume-se à base de uma agenda social-democrata. Numa altura em que a social-democracia se arrasta numa profunda crise por toda a Europa, não é pedir pouco.

A frase do Presidente teve outras vantagens. Com o PS colocado no centro do tabuleiro, Marcelo consegue agradar a PSD e a CDS ao pedir “maior criação de riqueza”, e piscar o olho a Bloco de Esquerda e PCP, exigindo “melhor distribuiç­ão” dessa riqueza. Por outro lado, com aquilo a que vamos assistindo nos Estados Unidos, no Reino Unido, na França ou na Turquia, a tal agenda social-democrata de grau zero ainda há de acabar por conseguir seduzir vagamente Bloco e PCP. Seja como for, não terá sido esta a frase-chave para o ambiente que se viveu ontem na Assembleia da República, nem sequer será o Presidente o único responsáve­l pelo clima de alguma paz ao longo de toda a sessão, até porque foi o último a discursar. Há um “efeito Marcelo”, sem dúvida, mas houve mais. A verdade é que respirou-se melhor, com menos pressão do que em anos anteriores. O discurso do Presidente recebeu aplausos de todas as bancadas, o Parlamento foi o centro das comemoraçõ­es, não tivemos notícia de boicotes e não houve aproveitam­entos da tribuna para críticas entre partidos. Já não estávamos habituados.

Obviamente, o debate quinzenal desta tarde há de trazer de volta todo o armamento que ontem ficou em casa. Aliás, o Presidente acredita que é na diversidad­e e no tom áspero do debate político em Portugal que está parte do segredo da nossa resistênci­a a fenómenos extremista­s que castigam outros países. Não sei se será, mas é uma boa hipótese de explicação. Já agora, e ao fim de 43 anos, é uma bela ideia a de Marcelo Rebelo de Sousa. É tempo de recuperar uma ideia de patriotism­o. Sem complexos.

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