As desigualdades, de qualquer espécie, internas ou de natureza internacional, podem facilmente criar um ambiente de recurso à força, designadamente o uso das armas mais perigosas, nas mãos menos confiáveis
na estratégia, o que parece mais inquietante é a multiplicação de titulares do armamento atómico. Embora a violência marque severamente o tempo que passa, certo é que a violência suprema, que o bombardeamento sobre o Japão pelos EUA para colocar um ponto final na ação militar japonesa demonstrou ser caminho para a destruição da humanidade e desencadeou uma série de cautelas, sobretudo normativas, para que a posse dessas armas não pudesse multiplicar os titulares.
Mais uma vez os factos desconsideram os tratados e as governações. Por isso os interesses, ainda que não sejam claros os resultados, que o atual presidente dos EUA espera dos seus contactos com o Oriente, o que em muitos aspetos apenas quererá dizer China, parecem dirigir-se para a área onde a desigualdade militar começa a não poder permitir ignorar a multiplicação de países titulares daquela terrível capacidade. Não se trata das chamadas armas dos pobres, que todavia espalham o terror das sociedades civis e a tranquilidade de uma vida habitual. Não sendo isso, é um reequilíbrio procurado pelo mais inquietante dos programas, quando não a busca de uma superioridade de armas. Naquela vasta região, possuem as armas atómicas, por exemplo, a China, a União Indiana, o Irão, a Coreia do Norte, mas não as possui a primeira visada pelo uso, o Japão, nesta data um dos parceiros talvez mais solidário com os ocidentais. Temos infelizmente a experiência histórica de que dificilmente os Estados renunciam a posições que consideram não só prestigiantes como eficazes para a sua defesa, segurança ou expansão. As causas internas, designadamente de prestígio de governos autoritários, ou externas, que animam o contágio das participações nos conflitos, são disparadas por incidentes inesperados e por vezes banais.
De qualquer modo, as desigualdades, de qualquer espécie, internas ou de natureza internacional, podem facilmente criar um ambiente de recurso à força, designadamente o uso das armas mais perigosas, nas mãos menos confiáveis. É este um dos sinais gritantes para que se reforce a legitimidade reconhecida das organizações empenhadas em combater as desigualdades. Porque estas, comprovadamente, têm como passo seguinte o desespero, e este conduz aos atos, por vezes insignificantes, mas que desencadeiam o conflito armado, como por exemplo aconteceu com a Primeira Guerra Mundial de 1914-1918. Temos evidência significante de que o avanço da ciência e da técnica não encontra em todas as comunidades políticas uma racionalização presidida pela ética internacional, e não temos saber suficiente para impedir a difusão do saber fazer ou adquirir as capacidades ilícitas. O risco do ato insignificante com efeitos destrutivos está sempre a tempo de ser praticado. O mais surpreendente é que foi possível detetar isso e consentir no progresso de risco.