A prisão que esteve para ser hotel e vai passar a museu
Governo aprovou ontem em Conselho de Ministros especial um museu nacional dedicado à luta pela liberdade na fortaleza
O governo aprovou ontem um plano de recuperação da fortaleza de Peniche para instalar na antiga prisão do Estado Novo um museu nacional dedicado à luta pela liberdade e pela democracia, investimento que ascende a 3,5 milhões de euros. Em setembro de 2016, a fortaleza de Peniche chegou a ser integrada pelo governo na lista de monumentos históricos a concessionar a privados, no âmbito do programa Revive, mas passados dois meses foi retirada pela polémica suscitada.
Ontem, no final do Conselho de Ministros que decorreu na fortaleza de Peniche no dia em que passaram 43 anos da libertação dos presos políticos, a ministra da Presidência anunciou que o executivo aprovou a elaboração de um plano de recuperação do forte para aí instalar um museu nacional dedicado à luta pela liberdade e pela democracia. Já o ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, explicou que se mobilizam “no imediato os fundos do Programa Centro 2020, do Portugal 2020”, um “investimento global previsto que ascende a 3,5 milhões de euros”.
O primeiro-ministro disse ser fundamental “manter a memória viva” da luta contra a ditadura. “Acho fundamental manter esta memória viva porque, como infelizmente a história nos tem recordado quando nos esquecemos, tendemos a repetir aquilo que nunca mais pode ser repetido”, disse António Costa em declarações dentro da cela onde esteve o histórico comunista Álvaro Cunhal.
“Há males que vêm bem”, afirmou o presidente da Câmara de Peniche, António José Correia (CDU), ao explicar que, quando assumiu a presidência da câmara em 2005, o município tinha assinado um protocolo com a Enatur para uma pousada e que foi sempre defendendo a concessão parcial a privados para fins turísticos em compatibilização com a preservação da memória. “Estou mais satisfeito com esta solução e é muito importante o papel que as organizações associadas aos presos políticos tiveram”, admitiu o autarca.
Domingos Abrantes, o antigo preso político que mais anos esteve encarcerado (dez anos), reagiu com contentamento à decisão, ao condenar a concessão parcial da fortaleza para fins turísticos. Contra a concessão para fins turísticos, o expreso político defendeu que “ninguém viria passar férias e estar de biquíni a tomar banho na piscina que estava prevista e depois haver milhares de pessoas a visitar grades”.
Preso na fortaleza de Peniche entre junho de 1957 e maio de 1962, onde se casou e veio a assistir aos planos da fuga a 3 de janeiro de 1960 de Álvaro Cunhal, o historiador António Borges Coelho mostrou-se “feliz com a decisão”, ao considerar que “tinha de haver uma memória do sofrimento do período repressivo do fascismo”. LUSA