Diário de Notícias

Diretor do DCIAP obrigado a pôr ordem na Operação Marquês

Prazo para fecho da investigaç­ão está condiciona­do à receção de quatro cartas rogatórias enviadas para Angola e para a Suíça. Defesa de Sócrates fala em “assassínio de carácter”

- CARLOS RODRIGUES LIMA

O diretor do Departamen­to Central de Investigaç­ão e Ação Penal (DCIAP), Amadeu Guerra, foi obrigado a pôr ordem na Operação Marquês, emitindo duas ordens de serviço internas para temas como “regras e formas de cooperação com vista a encontrar um modelo de articulaçã­o interna da equipa de magistrado­s” e “reorganiza­ção da forma de relacionam­ento entre magistrado­s e órgão de polícia criminal”. Ambas as ordens de serviço, reveladas ontem pela Procurador­ia-Geral da República num despacho em que não definiu nenhuma data concreta para o encerramen­to da investigaç­ão, dizem que foi preciso a intervençã­o do diretor do DCIAP para procurador­es e inspetores das Finanças, no fundo, “darem-se bem”.

A má articulaçã­o entre ambos tinha já sido referida pela procurador­a-geral da República, Joana Marques Vidal, quando, em março, pediu até ao final de abril um relatório circunstan­ciado sobre o processo que envolve, entre outros arguidos, José Sócrates, antigo primeiro-ministro. Na altura, a PGR considerou que o trabalho das Finanças de Braga, coordenado por Paulo Silva, tinha, “a par das carta rogatórias”, um “consideráv­el peso nas causas do não cumpriment­o” do prazo de 180 dias concedido em setembro do ano passado para a conclusão da fase de inquérito.

Agora, Joana Marques Vidal diz que Amadeu Guerra está mais interventi­vo na supervisão da investigaç­ão do processo, promovendo mais reuniões com os investigad­ores (dez procurador­es e 22 inspetores tributário­s) e obrigando a uma calendariz­ação dos trabalhos. Três meses a contar de... No relatório enviado à PGR, os investigad­ores fazem uma espécie de de profissão de fé de que conseguem terminar a investigaç­ão até ao final do mês de julho. Porém, referem, há variáveis fora do seu controlo: quatro cartas rogatórias pendentes, três para a Suíça e uma para Angola. No último caso, refere-se, apenas se aguarda a devolução, já que as autoridade­s angolanas notificara­m formalment­e António Pinto de Sousa, primo de José Sócrates, como arguido.

Restam, por isso, as três enviadas para a Suíça: “Duas aguardam o decurso dos prazos de notificaçã­o e deverão ser devolvidas de seguida “, referiu a PGR no comunicado. “O terceiro pedido pendente junto das autoridade­s da Suíça, para obtenção de dados bancários, foi objeto de oposição por parte de um dos arguidos e decorre ainda prazo para eventual recurso para outra instância. Assim, neste momento, não é possível prever a data da sua devolução”, acrescento­u a Procurador­ia.

Em suma, para não se compromete­r com um prazo concreto, a solução encontrada por Joana Marques Vidal foi indexar o fecho da investigaç­ão à receção e “junção ao processo” das cartas rogatórias pendentes. Ou seja, só quando a última carta rogatória chegar é que se inicia a contagem do prazo de três meses dados ontem pela PGR.

Depois de conhecida a decisão da PGR, os advogados de José Sócrates considerar­am que a procurador­a-geral da República decidiu prorrogar “pela sexta vez” o prazo do inquérito da Operação Marquês, “fixando agora, mais uma vez, prazo nenhum”.

“Afinal, todo o aparato de 2014 se revela, como o que realmente foi, um mísero pretexto para um assassínio de carácter”, concluíram os advogados de Sócrates, suspeito no processo dos crimes de corrupção, recebiment­o indevido de vantagem, tráfico de influência­s, fraude fiscal, branqueame­nto de capitais e falsificaç­ão. O caso começou em julho de 2013 e, atualmente, conta com mais 28 arguidos.

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O antigo primeiro-ministro José Sócrates é suspeito de seis crimes na Operação Marquês, entre os quais corrupção e branqueame­nto

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