Fiscalização deve começar na criação. Cruzamentos podem ser perigosos
Bastonário pede uma “canicultura responsável”. Através da escolha dos reprodutores, é possível orientar a criação
ANIMAIS “Se forem cruzados dois cães agressivos, eventualmente há mais probabilidade de ter um cão agressivo. Se forem cruzados indiscriminadamente, como acontece, à revelia do que está estipulado, estes factos [ataques de cães] podem começar a acontecer com mais intensidade.” Jorge Cid, bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, defende uma “maior fiscalização” no que diz respeito aos cães potencialmente perigosos. Embora o “fator mais determinante” seja a educação que é dada ao animal, “existe uma base genética” com alguma influência, pelo que a fiscalização deve começar nos criadores.
As declarações do bastonário surgem no seguimento dos ataques de cães que se registaram nos últimos dias. Jorge Cid diz que há legislação em Portugal, “o que não há é implementação”. E falta fiscalização. Além da falta de controlo na criação, “não há fiscalização de como o animal é tratado e educado”. Se o animal não for bem socializado ou se for deixado fechado numa cave, por exemplo, “torna-se tendencialmente mais agressivo”.
Usado para um fim ilícito, um cão “acaba por ser uma arma”. “Deve haver uma preocupação em ver onde estão estes animais, quem são os seus detentores e se têm condições para os ter”, alerta.
Os cruzamentos são uma preocupação. “Sei qual é o comportamento que é esperado de um cão de raça, que tamanho vai ter, se precisa de fazer muito exercício físico. No entanto, quando há um cruzamento de raças, o cão é um ponto de interrogação”, explica Pedro Silva, especialista em comportamento e treino canino, acrescentando que se “cruzar um cão agressivo com uma cadela agressiva, dois irmãos ou dois primos, acentuam-se essas características”.
Jorge Cid destaca que os criadores de raças potencialmente perigosas podem tentar “orientar a sua criação para animais exponencialmente agressivos ou tentar selecionar os animais pelo seu equilíbrio comportamental, docilidade, sociabilidade”. J.C.