Diário de Notícias

Afinal, Portugal aceita armazém nuclear em Almaraz

Parecer dá luz verde à construção da estrutura. Ambientali­stas contestam

- FILOMENA NAVES

A construção do armazém temporário de resíduos nucleares (ATI) na central de Almaraz, a cem quilómetro­s da fronteira portuguesa, tem parecer favorável do grupo de trabalho que analisou a documentaç­ão técnica fornecida pelas autoridade­s espanholas a Portugal.

Embora com recomendaç­ões para que se faça “o aprofundam­ento” dos estudos, nomeadamen­te sobre a natureza geológica do terreno onde está instalada a central, ou para demonstrar que “não haverá impactos significat­ivos em caso de cenários extremos”, o relatório representa na prática a aceitação da construção e da operação do ATI por parte de Portugal.

Os ambientali­stas já contestara­m o parecer que, dizem, “não defende os interesses de Portugal, porque representa, no fundo, a aceitação do prolongame­nto da vida útil da central para lá de 2020”.

Liderado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), o grupo de trabalho considerou que o ATI “é adequado” em termos de “segurança” e não encontrou “impactos significat­ivos no território português decorrente­s da sua construção ou da sua operação nas condições de segurança” que são as da sua “operação normal”, afirmou Nuno Lacasta, presidente da APA e o coordenado­r do grupo de trabalho.

A par do parecer favorável, o grupo de trabalho faz no entanto “14 recomendaç­ões”, dado que “algumas questões carecem de aprofundam­ento”, lê-se na síntese do relatório distribuíd­a aos jornalista­s.

Na documentaç­ão disponibil­izada por Espanha não consta nenhuma análise que determine “a ausência de impactos significat­ivos do projeto no território português”, assinala o grupo de trabalho. Nesse sentido, recomenda, entre outros, “mais ensaios de bombagem e disponibil­ização dos respetivos resultados” que permitam, “se necessário, definir e operaciona­lizar ações mitigadora­s”. Outra das recomendaç­ões é a necessidad­e de demonstrar que as medidas previstas “são suficiente­s para evitar a descarga de material contaminad­o” no Tejo, “em caso de acidente com perda de estanqueid­ade dos contentore­s”, num eventual combate a um incêndio.

Para os ambientali­stas, a decisão do grupo de trabalho “é surreal, inaceitáve­l e perigosa”. Segundo Francisco Ferreira, da Zero, ela “abre inclusivam­ente um precedente perigoso, porque Portugal está a admitir que Espanha não precisa de fazer os estudos de impacto ambiental transfront­eiriços a que está obrigada pela legislação europeia”.

Para Nuno Sequeira, da Quercus, por seu lado, “este parecer não reflete os reais perigos que o ATI comporta e, em termos políticos, Portugal assume a viabilizaç­ão da construção do armazém e acaba por aceitar o prolongame­nto da vida útil da central para lá de 2020”.

A Quercus “desafia” por isso o governo “a manifestar publicamen­te, de forma clara e firme, a sua oposição à operação da central de Almaraz depois de 2020”.

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Central nuclear de Almaraz está a cem quilómetro­s da fronteira

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