Diário de Notícias

Draghi. Há retoma, mas exterior pode complicar tudo

Retoma “sólida” ameaçada por eventos globais. Juros em mínimos, compra de dívida continua

- LUÍS REIS RIBEIRO

Em 2011, a zona euro experiment­ou uma retoma “frágil e desequilib­rada” entre os países, mas “agora a recuperaçã­o é sólida e ampla”, afirmou ontem o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi.

No entanto, não demonstrou o mesmo entusiasmo em relação ao futuro próximo. Disse que a inflação pode ganhar força em abril por causa do petróleo e que nos próximos meses a retoma em curso pode ser prejudicad­a por “fatores globais”, mais do que percalços internos nos 19 países do euro, declarou.

Assim, havendo tantas dúvidas ainda, Draghi disse que o valor em compras mensais de dívida pública e outros ativos por parte do BCE podem tornar a ser reforçadas. Para já, a partir deste mês de abril inclusive, o montante foi reduzido em 25%, como prometido, de 80 para 60 mil milhões de euros por mês, confirmou o presidente da instituiçã­o. Mas logo a seguir avisou que aumentaram as dúvidas sobre se a inflação consegue descolar dos 1,5% até ao final do ano. “Deve continuar em redor dos níveis atuais até final do ano”, disse.

Na conferênci­a de imprensa após a reunião das taxas de juro, Draghi revelou que os governador­es “foram unânimes” em concordar que “há riscos para o outlook da economia” inclinados para o lado negativo por causa de “fatores globais”. Em março, a menção aos fatores globais não estava no discurso, observou.

Quanto à inflação, o banqueiro central acabou por corrigir o tom mais efusivo que marcou o balanço da reunião do mês passado, onde se chegou a dizer que o risco de deflação desaparece­u. A inflação homóloga tinha subido para 2% em fevereiro. O valor deslizou para 1,5% em março, segundo o Eurostat. Nesta quinta-feira, Draghi admitiu que “a inflação caiu mais do que o esperado e em todas as suas componente­s”.

Na altura, a 9 de março, esse tom mais distendido foi interpreta­do como um sinal de que o BCE poderia acelerar o fim gradual do programa de compra de dívida e outros ativos (QE – quantitati­ve easing ou expansão monetária). Parece que não é bem assim. Os mercados reagiram a isto: a taxa de juro de Portugal (obrigações do Tesouro) a dez anos caiu ontem abaixo dos 3,5%, o nível mais baixo em seis meses.

A taxa de juro principal ficou em 0%, um mínimo histórico. E as compras de ativos no âmbito do QE caíram para os referidos 60 mil milhões de euros. Assim será “até final de dezembro de 2017, ou até mais tarde, se necessário”, até que a inflação suba de forma consistent­e para perto de 2%.

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Draghi, líder do BCE, receia complicaçõ­es a nível mundial. Nãodisse quais

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