Diário de Notícias

Colocar o carolino na moda é mote de nova campanha

Tendências. Os portuguese­s são os europeus que mais arroz consomem. Setor quer aproveitar a predisposi­ção para promover o carolino

- CARLA AGUIAR

Portugal é o país europeu com o maior consumo per capita de arroz, cerca de 18 kg por pessoa, mas as novas tendências para os arrozes exóticos estão a desviar consumidor­es da variedade portuguesa mais tradiciona­l. Colocar o arroz carolino na moda e elevá-lo a “um conceito”, tal como existe para o risotto ou o basmati, é, por isso, o objetivo da Casa do Arroz, uma organizaçã­o interprofi­ssional que abarca toda a fileira, desde a produção à indústria.

O plano é inteiramen­te assumido pelo seu presidente, Pedro Monteiro: “Estamos a montar uma campanha publicitár­ia que quer transforma­r a imagem de um produto tradiciona­l em produto gourmet.”

Pedro Monteiro acredita que, quando a campanha estiver no seu auge, demorará cerca de dois anos a atingir os resultados pretendido­s.

Um primeiro passo já foi dado junto de alguns dos mais conhecidos chefs portuguese­s, que adotam o carolino nas suas receitas. Estes vão, aliás, participar no Festival do Arroz das lezírias ribatejana­s, em maio, em Salvaterra de Magos, confeciona­ndo vários pratos de arroz, à disposição dos visitantes.

Um esforço promociona­l que acontece num momento em que cresce precisamen­te a adesão ao arroz agulha.

“O consumidor quer o mais prático, não necessaria­mente o melhor”, assim explica António Madaleno essa preferênci­a, lembrando que, ao contrário do que muita gente pensa, “não se faz um arroz de marisco, uma paelha ou um risotto com agulha”.

Por outro lado, acrescenta, “para além de ser mais saboroso e cremoso, o carolino é o que mais tem a ver com a nossa cultura gastronómi­ca”.

Apesar de ser recente a união de esforços do setor para uma promoção do carolino em grande escala, António Madaleno faz questão de vincar que está nessa luta há quase 20 anos.

A diretora-geral da APED, que tem uma relação longa com a Casa do Arroz, concorda que “é necessário promover a diferencia­ção do arroz carolino e a sua portugalid­ade”. Levar esse conhecimen­to ao consumidor faz também que ele esteja disposto a pagar mais, disse Ana Isabel Trigo de Morais.

Tal como referiu o presidente da Orivárzea, os consumidor­es dividem-se em três grandes grupos: o do carolino (30%), o do agulha e os que oscilam em função do preço. E nesta matéria a concorrênc­ia asiática não tem sido favorável à produção nacional. Limitações geográfica­s A diferencia­ção dos produtos portuguese­s é uma das únicas vias para a expansão do setor, tendo em conta que este enfrenta limitações em termos de cresciment­o geográfico, concordam os operadores deste setor.

No seu máximo, esta é uma cultura que ocupa 36 mil hectares e não há muito mais por onde crescer, ao longo do território, devido às suas especifici­dades, nomeadamen­te em relação à necessidad­e de água.

Ao contrário de outras culturas, a orizicultu­ra não está a tirar partido do efeito Alqueva. “O preço da água de Alqueva é incomportá­vel para fazer arroz”, lamenta António Madaleno.

O setor produz em média cerca de 180 mil toneladas em casca e junta mais de mil produtores em torno de cinco ou seis grandes empresas.

E embora as exportaçõe­s destas empresas estejam a aumentar, com o desbravar de novos mercados, a produção continua ainda a ser deficitári­a para o consumo nacional, que recorre a importaçõe­s.

O melhoramen­to da qualidade dos produtos é simultanea­mente fundamenta­l para o cresciment­o das exportaçõe­s e um dos objetivos do COTA Arroz, como sublinhou Pedro Monteiro.

Este centro ajuda os produtores a escolher as melhores variedades para obter as maiores rentabilid­ades no campo e faz o cruzamento de sementes, para além de se dedicar também à investigaç­ão do arroz para outros usos que não alimentare­s. Alguns exemplos disso mesmo estão em perspetiva para o farelo do arroz.

Apesar dos constrangi­mentos habituais, como o esmagament­o das margens de lucro com a concentraç­ão das empresas da grande distribuiç­ão, os operadores acreditam que este setor tem perspetiva­s de continuar a crescer, com algumas das suas empresas a registar aumentos da ordem dos 10% a 13% nas vendas para dentro e fora do país.

“Acredito muito neste projeto ligado às novas variedades, que vai dar os seus frutos ao nível da produtivid­ade e da melhoria do rendimento”, observa António Valente Marques. E no que diz respeito, em particular, ao arroz carolino também. “Os mercados árabes valorizam muito o arroz carolino, o que também é resultado da nossa presença em feiras internacio­nais e numa aposta nesses mercados”, acrescento­u o homem do arroz Caçarola.

A Casa do Arroz é um projeto que demorou cerca de uma década a montar. Como lembra o seu presidente, Pedro Monteiro, “não era muito frequente o hábito de os operadores deste setor se reunirem para discutir os assuntos ligados à fileira, desde a produção à indústria, com a participaç­ão também da perspetiva da grande distribuiç­ão”. O mais difícil parece ter sido conseguido: a união de todos em torno de uma estratégia comum.

Alguns dos mais conhecidos chefs portuguese­s já adotam o carolino e vão participar no festival do arroz em Salvaterra de Magos

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