Diário de Notícias

Le Pen, à pesca de votos, recupera terreno no duelo com Macron

Presidente interino da Frente Nacional, Jean-François Jalkh, fez no passado declaraçõe­s que podem ser considerad­as negacionis­tas do Holocausto. Emmanuel Macron ataca rival dizendo que se trata de um partido xenófobo

- JOSÉ FIALHO GOUVEIA

Apesar de muito distantes um do outro naquilo que defendem para o país, é cada vez menor o terreno eleitoral que os separa. Em apenas sete dias, Marine Le Pen recuperou 12 pontos no duelo com Emmanuel Macron. De acordo com as sondagens diárias que a OpinionWay realiza para o jornal Les Échos, a diferença entre os dois candidatos – que a 20 de abril era de 30 pontos percentuai­s (65% contra 35%) – estava ontem reduzida a 18 (59% contra 41%). Num outro estudo também divulgado ontem, este da Ifop-Fiducial feito para a revista Paris Match, a candidata da Frente Nacional surge com 39,5% das intenções de voto contra 60,5% de inquiridos que irão votar em Emmanuel Macron.

A sondagem da OpinionWay mostra, no entanto, que a maior parte dos eleitores que na primeira volta votaram nos outros candidatos preparam-se para escolher Macron no dia 7 de maio. Ainda assim, são muitos os que agora vão optar pela candidata da Frente Nacional. Os eleitores mais suscetívei­s de o fazer são aqueles que na primeira ronda votaram em Jean-Luc Mélenchon: 38% irá agora pôr a cruz em Le Pen. Apesar de, consideran­do o eixo esquerda-direita, os dois estarem nos antípodas políticos, há matérias em que defendem posições semelhante­s. Ambos estão de acordo, por exemplo, no discurso contra a Europa.

Em campanha em Sarcelles, nos subúrbios de Paris, Macron aproveitou ontem para lançar farpas contra o partido da sua adversária. “A França não é o ódio aos outros. Há franceses de todas as cores, que vêm de todos os países do mundo. Isso é a França. Não vou deixar banalizar esse partido xenófobo que é a Frente Nacional”, afirmou o candidato independen­te.

Marine Le Pen, por seu turno, passou o dia entre pescadores, em Grau-du-Roi, no Sul do país, e garantiu que irá defender todos os que vivem do mar e todos os setores ameaçados pelas regulament­ações europeias. “Deixem-me avisar-vos que aquele homem [Macron] vai destruir todas as nossas estruturas sociais e económicas”, afirmou a candidata da Frente Nacional .

Macron aproveitou a deixa para contra-atacar: “Marine Le Pen foi à pesca. Bom passeio. A saída da Europa que ela propõe seria o fim da pesca francesa. Pensem nisso”, escreveu no Twitter o candidato independen­te e centrista.

Para ensombrar a campanha da candidata da Frente Nacional chegaram ontem notícias do Parlamento Europeu. Esta instituiçã­o europeia estima em cinco milhões de euros a alegada fraude que Marine Le Pen terá cometido ao utilizar fundos comunitári­os para financiar despesas do partido em França, nomeadamen­te o pagamento de salários a assessores. O pai esperava melhor Jean-Marie Le Pen, em entrevista à revista Marianne, disse que “não ficou particular­mente emocionado” com o resultado da filha Marine na primeira volta das presidenci­ais. “Esperava melhor, mas penso que um certo número de eleitores frentistas [da Frente Nacional] votaram Fillon para tentar eliminar Macron”, explica o fundador do partido. Isto porque estariam convencido­s de que Fillon seria um adversário mais ao alcance da candidata na ronda decisiva.

Na mesma entrevista, o pai Le Pen rejeita comparaçõe­s entre o momento atual e aquele que ele próprio protagoniz­ou em 2002, quando disputou e perdeu a segunda volta contra Jacques Chirac, não indo além de 17,8% dos votos. “A situação é muito diferente. Os franceses ainda não tinham tomado consciênci­a do valor e da validade do discurso da Frente Nacional. Hoje já têm consciênci­a de que se trata de um partido respeitáve­l.”

Jean-Marie Le Pen, hoje com 88 anos, fundou a Frente Nacional em 1972, mas em 2015 acabou por ser expulso do partido, depois de entrar em rota de colisão com a filha Marine, na sequência de declaraçõe­s vistas como negacionis­tas do Holocausto e que muito mancharam a imagem e a reputação da Frente Nacional. À Marianne, o pai Le Pen confidenci­ou que a mensagem escrita de parabéns que enviou à filha pelo resultado na primeira volta ficou sem resposta.

Agora que Marine Le Pen decidiu abandonar a presidênci­a do partido até à segunda volta das eleições, o fantasma do Holocausto regressou de forma inesperada. Para presidente interino foi escolhido Jean-François Jalkh e não tardou muito até que a imprensa francesa fosse ao baú político do ano 2000 para repescar declaraçõe­s do agora eurodeputa­do. Numa entrevista de três horas, concedida em abril desse ano a Magali Boumaza, um estudante de doutoramen­to em Ciências Políticas, Jalkh considerou que há “negacionis­tas sérios” e que argumentam de forma sólida e colocou em causa a utilização do gás Zyklon B nos campos de extermínio nazis durante a Segunda Guerra Mundial .

 ??  ?? A candidata da Frente Nacional, Marine Le Pen, esteve ontem em campanha junto dos pescadores em Grau-du-Roi, no Sul de França
A candidata da Frente Nacional, Marine Le Pen, esteve ontem em campanha junto dos pescadores em Grau-du-Roi, no Sul de França

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal