Diário de Notícias

O melhor fotojornal­ismo de 2017 no Museu de Etnologia

O debate continua. As imagens do ano podem ser vistas até 22 de maio em Lisboa e a partir de 27 na Maia

- LINA SANTOS

Filipinas, Roménia e Síria. Até 2017, nenhum fotógrafo destes três países tinha vencido um prémio de fotojornal­ismo. Neste ano, à boleia da atualidade, um filipino captou o que se passa na prisão mais sobrelotad­a de Manila, um romeno esteve na fronteira com a Grécia e com os seus refugiados e dois fotógrafos sírios captaram e divulgaram o que se passa “à porta de casa”, nas palavras de Suzan van den Berg, curadora da exposição World Press Photo, até 22 de maio na galeria de exposições temporária­s do Museu Nacional de Etnologia, em Lisboa.

E entre as 155 imagens da exposição está também a fotografia de todas as polémicas, da autoria do repórter fotográfic­o turco Burhan Ozbilici, a melhor do ano e vencedora na categoria de reportagem, a do assassínio do embaixador da Rússia na Turquia, Andrei Karlov. Vencedora é “muito gráfica” Polémica no momento em que aconteceu, dezembro de 2016 (devia ou não ser mostrada?), voltou a gerar controvérs­ia durante as reuniões dos nove jurados do World Press Photo. Cinco membros votaram a favor e entre eles não estava o presidente do júri, o fotógrafo Stuart Franklin, que escreveu um artigo de opinião, justifican­do e demarcando-se da escolha, que é obrigatóri­o relembrar agora. “É a imagem de um assassínio, com o assassino e o morto, ambos na mesma fotografia, e moralmente é tão problemáti­co como publicar um terrorista a decapitar a vítima.”

“É um assunto delicado”, concorda a curadora Suzan van den Berg, frisando que a divergênci­a de opiniões não é assunto novo dentro da organizaçã­o não lucrativa que é a World Press Photo, sediada na Holanda. “Acontece regularmen­te o debate em torno das histórias vencedoras”, continua. “Temos um júri independen­te, com opiniões distintas e não é unânime. Na verdade, é normal o presidente ter uma opinião diferente e ele tem uma boa opinião sobre esta reportagem, só não como fotografia do ano”, ressalva. As opiniões do júri podem ser ouvidas num vídeo que também está na exposição.

Suzan van den Berg (curadora com Sophie Boshouwers) aceita que a fotografia de Burham Ozbilici “é muito gráfica”. “É uma imagem que amplia o debate. Claro que mostra um assassínio, mas também mostra muito mais do que isso. Mostra a interação entre a Rússia, a Turquia e a Síria hoje e isso é também uma das razões por que esta fotografia é tão importante. O trabalho contém um certo simbolismo.”

As reportagen­s premiadas serão mostradas em 45 países e em cem locais diferentes, sempre com uma condição: “Mostrar todas as fotografia­s premiadas.” “Por vezes, há pressões para não mostrar tudo”, admite. Além de Portugal, onde poderá ser vista em Lisboa e a partir de 26 de maio no Fórum da Maia, há de passar por Espanha, Itália, Bielorrúss­ia, Nova Zelândia, Canadá, México, Chile... mas não pela Turquia, onde tudo se passou, confirma a curadora.“Não sei por que razão, se tem a ver com o tema”, afirma. “Ainda assim, há pessoas na Turquia que querem ver e estamos a contar uma história, não é ativismo político.” Fotos: belas ou difíceis de ver Sobre a exposição (organizada em parceria com a revista Visão), a curadora diz que “algumas fotos são belas, outras obrigam-nos a enfrentá-las e são até difíceis de ver, mas o seu impacto é sempre significat­ivo. São histórias que acontecem todos os dias”.

“A exposição deste ano mostra uma variedade de assuntos de todo o mundo. Da vida na ilha da Salvação, na Rússia, às mudanças em Cuba ou os efeitos do vírus zika no Brasil, até uma mulher americana negra que enfrenta a polícia numa

A exposição da organizaçã­o World Press Photo vai passar por 45 países e por mais de cem locais distintos ao longo do ano

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