De onde vem a votação de Le Pen?
Acandidata da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, passou à segunda volta das presidenciais com pouco mais de 20% dos votos. Para discutir a vitória final passou igualmente um ex-banqueiro e ex-ministro do socialista Hollande, Emmanuel Macron, que se apresentou como centrista, coisa que os extremistas consideram ser o pior dos pecados. Pelo caminho, além do gaullista Fillon, ficou o radical Mélenchon, ambos com perto de 20% dos votos.
A trupe de Mélenchon, a mais jovem, saiu entretanto à rua contestando o resultado democrático que colocou o senhor Macron e a senhora Le Pen na segunda volta. Bloqueando meia dúzia de escolas em Paris, tomaram conta do noticiário francês e foram notícia no resto do mundo. “Nem pátria nem patrão. Nem Le Pen nem Macron”, dizem os “ingovernáveis” para quem a democracia só é válida quando lhes faz a vontade. No entretanto, vão fazendo a campanha que interessa à Frente Nacional, que viu a sua candidata dobrar as intenções de voto (está já acima dos 40%) em poucos dias.
Sim, em Portugal há quem pense que faz todo o sentido o que está a fazer Mélenchon e a sua plataforma política. Por uma espécie de milagre para o qual estamos ainda à espera de explicação racional, essa mesma esquerda que parece aceitar esta chantagem sobre as forças democráticas francesas aceitou, em Portugal, fazer parte de uma solução governativa com um partido que está inequivocamente ao lado de Macron.
A evidência de que a senhora Le Pen está em franco crescimento eleitoral não parece incomodar quem se afirma antixenofobismo e antirracismo. Têm é de aceitar a constatação de que a luta contra o capitalismo e o europeísmo, causa comum com a Frente Nacional, é mais forte e mais mobilizadora. Eles não são anarquistas contra qualquer forma de governo, o que eles não aceitam na democracia é que o povo possa escolher outros que não eles para governar a França. Numa Europa em que o que cresce são os nacionalismos, pouco importa saber se eles são de direita ou de esquerda.