Diário de Notícias

O mundo tem falta de amor

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Brigitte passeia na fama. O seu amor vai ser Presidente. Macron anda excitado. Dizem as sondagens, não dá hipóteses a Le Pen. Leva consigo o seu amor, sobe com ela ao palco, dá-lhe a mão em frente ao mundo. As câmaras rendem-se. Estão fartas de monstros, bombas e horrores. Filmam o belo e o romance. Ela tem 64; ele 39. Apaixonou-se por ela aos 16. Era sua professora. Os pais impediram a relação, mandaram-no para longe. Mas ele voltou. Prometeu-lhe... um dia cumpriu. Conquistou o amor, a França... o mundo, que olha para ele com esperança. Macron será populista, liberal, calculista. Talvez um efémero engano. Mas há nele essa prova de gente: o amor. Lembro-me de Xi Jinping ao subir ao poder. Rosto cerrado, duro no olhar, sorriso pequeno, mão-de-ferro e traje imperial comunista. Mas ao lado o seu amor: Peng Liyuan, cantora pop, elegante, doce no andar, um sorriso que promete não falhar. Se quer aquele homem, há nele um homem que se quer. O que tem o amor a ver com a política? Dizem teses psiquiátri­cas que sexo e poder andam de mãos dadas. Há o poder nas relações; triste a abusivo. Há as relações de poder, truncadas, perversas e traiçoeira­s. Coisa complicada, porque assim funciona a mente humana. Mas há coisas mais simples de ver. Trump está zangado. Até parece acompanhad­o, mas não olha para ninguém. Está demasiado contente consigo mesmo. Parece ter muito poder; arrisca acabar mais só do que nunca. Merkel está rija, faz o seu caminho, cumpre o caminho ético: protestant­e. Mas falta-lhe o sal e a pimenta, não transmite aquela energia. Kim Jong-un só gosta do poder, precisa mesmo é de ir ao divã; Maduro não quer gostar de ninguém, prefere o país na cadeia. Nem aquela esquerda espanhola, que parecia querer convencer, tem hoje qualquer energia de sedução. Porque é que isto faz mal? Porque depois da ideologia, da imposição dos valores, a tese era a ética, o multicultu­ralismo: como ninguém tem razão, aprende-se a viver uns com os outros. Mas no mundo de hoje, da decepção e do radicalism­o, uns viram costas aos outros, sem motivo ou pudor. Talvez gostar. De alguém, uns dos outros... É melhor começarmos a gostar.

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