Diário de Notícias

“O Fórum Macau não é uma instituiçã­o abstrata”

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XU YINGZHEN É DESDE JUNHO DE 2016 A SECRETÁRIA-GERAL DO FÓRUM DE COOPERAÇÃO ECONÓMICA E COMERCIAL ENTRE A CHINA E OS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA.

- Que balanço faz deste primeiro ano de atividade à frente do Secretaria­do Permanente do Fórum de Cooperação Económica e Empresaria­l entre a China e os Países de Língua Portuguesa?

Xu Yingzhen –Desde junho do ano passado, trabalhei muito fluidament­e com os colegas, visitei muitas entidades locais e tenho tido contato com diferentes países de língua portuguesa. Conto com todo o apoio das diferentes partes, e também internamen­te, no Secretaria­do Permanente e Gabinete de Apoio do Secretaria­do. Globalment­e, o trabalho corre muito bem. No ano passado, a atividade mais importante foi a 5ª Conferênci­a Ministeria­l do Fórum. Houve pouco mais de dois meses de preparação para enfrentar esta importante tarefa. Mas foi um sucesso. Contámos com uma participaç­ão de nível muito alto das delegações de todos os países de língua portuguesa, que teve muitos frutos. No discursos de abertura, o primeiro-ministro Li Keqiang apresentou 18 novas medidas. Os ministros assinaram o plano de ação para os três anos seguintes e, pela primeira vez, assinaram também um memorando de entendimen­to para a cooperação na capacitaçã­o produtiva. Neste ano, o primeiro de aplicação destes documentos, temos de dedicar muitos esforços para levar adiante estas medidas. O trabalho divide-se nas áreas de promoção comercial, investimen­to, intercâmbi­o cultural, capacitaçã­o de recursos humanos, colóquios e também a construção da plataforma de Macau. São áreas em que sempre trabalhámo­s, mas nas quais temos de incluir os novos conteúdos que os ministros acordaram. - Para as pessoas que possam ver o Fórum Macau como uma entidade ainda um pouco abstrata, como pode melhor descrever o seu trabalho? Como uma entidade que promove uma grande operação de business matching entre países? X.Y.

– O business matching é uma parte do nosso trabalho, uma parte muito concreta das tarefas do Fórum. Mas este é um organismo que aplica as metas fixadas pelos ministros durante as conferênci­as ministeria­is. Esta é a nossa principal

tarefa, levar à concretiza­ção desses objetivos, assim como promover assim as relações entre a China e os países de língua portuguesa e melhorar a construção da plataforma de Macau. Esta não é uma instituiçã­o abstrata. Colocamos muito esforço para realizar atividades, não só de business matching. Também temos organizado muitos colóquios para os quadros dos países de língua portuguesa e empenhamo-nos no intercâmbi­o cultural, realizando anualmente a Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa. Este tipo de intercâmbi­o é muito importante – de pessoas, cultura e linguístic­o – para que nos possamos entender melhor. Isto é muito bom para a futura cooperação económica e comercial. - O Fórum tem também um centro de formação. Que atividade tem atualmente este fórum? X.Y.

– Este centro organiza todos os anos colóquios em diferentes áreas para apoiar a formação de quadros dos países de língua portuguesa. No ano passado organizámo­s três colóquios, e este ano vamos organizar cinco colóquios – sobre capacidade produtiva, cooperação financeira, leis comerciais, medicina tradiciona­l e administra­ção de turismo. Às vezes também apoiamos os quadros que participam em colóquios organizado­s pelo Ministério do Comércio da China para que conheçam um pouco da situação de Macau. Também apoiamos os estágios do Instituto de Formação Turística. - Qual é a participaç­ão nos colóquios que organizam? X.Y.

– Este ano, nos cinco colóquios que vamos organizar, vamos formar cerca de 150 pessoas [quatro pessoas por país em cada colóquio, com a duração de duas semanas]. - Um dos grandes objetivos atuais, no trabalho de promoção da plataforma de Macau, é a construção do Complexo de Serviços para a Cooperação entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Que importânci­a vai ter? X.Y.

– Será muito importante, um lugar onde poderão estar todas as instituiçõ­es que trabalham para a cooperação entre a China e os países de língua portuguesa. Terá, por exemplo, as funções de exposições dos produtos dos países de língua portuguesa. Este Secretaria­do Permanente vai mudar-se para lá, e a futura Federação Empresaria­l da China e dos Países de Língua Portuguesa também. Será mais fácil encontrar uma janela única para obter serviços. No futuro, as reuniões e seminários que vamos organizar vão acontecer também ali, tal como as exposições culturais. As funções serão integradas, o que facilitará muito o trabalho. - Há receio de que possa haver eventuais atrasos nas obras, dada a experiênci­a comum em projetos desta natureza? X.Y.

– A construção é um trabalho das diferentes instituiçõ­es da RAEM. Nós apenas acompanham­os estes passos. Até agora, todo o processo corre bem. - No apoio aos países de língua portuguesa para que possam exportar mais para a China Continenta­l, considera-se que a logística de Macau pode ser melhorada? X.Y.

– A função ou a vantagem de Macau neste serviço para a importação pela China de produtos alimentare­s dos países de língua portuguesa não implica necessaria­mente estruturas logísticas. A função consiste em fazer a ponte. Por exemplo, no centro de exposição os produtos têm o código QR para que os empresário­s possam conhecer a forma de comunicar com o fornecedor. Talvez esta seja a forma de Macau dar apoio e melhorar os níveis de importação pela China a partir dos países de língua portuguesa. Além disso, o Governo de Macau e alguns empresário­s de Macau já investiram em diferentes cidades da China para estabelece­r outros serviços de exposição – já existem vários. Os produtos não têm necessaria­mente que passar por Macau. - No entanto, o Governo de Macau gostaria que estes produtos entrassem na China Continenta­l de alguma maneira através de Macau, havendo a possibilid­ade de serem tratados como produtos de Macau e gozarem de isenção de tarifas aduaneiras no âmbito do CEPA [Acordo de Estreitame­nto das Relações Económicas e Comerciais entre o interior da China e Macau]. X.Y.

– É outra forma de Macau apoiar a elevação das relações entre a China e os países de língua portuguesa. O Governo da RAEM está a discutir essas possibilid­ade com o Governo Central, procurando usar melhor o CEPA. Mas o acordo estabelece condições para que os produtos possam ser tratados como produtos originais de Macau. Quando os produtos puderem cumprir os requisitos do CEPA, poderá ser uma forma de Macau oferecer vantagens. - Muito recentemen­te, o subdiretor do Gabinete de Ligação da China em Macau sugeriu que devia haver ligações aéreas diretas para países de língua portuguesa. É uma das componente­s de ligação que pode também ser importante? X.Y.

– É uma boa proposta. Se existirem voos diretos, facilita-se muito as viagens para os países de língua portuguesa. Mas é uma questão comercial. Se as companhias considerar­em a possibilid­ade, têm de ponderar muitos factores, saber se é rentável. Isso é o mais importante. Temos sempre estes objetivos e queremos que as companhias possam considerar a abertura de voos diretos, mas são companhias comerciais e têm de considerar a rentabilid­ade. Sei que estão a explorar a possibilid­ade. - O contexto do comércio mundial foi particular­mente difícil nos últimos dois anos, nomeadamen­te com a reforma estrutural chinesa, que teve um grande impacto no mercado das matériaspr­imas. Em 2017, tendo em conta as perspetiva­s para a economia chinesa, o que podemos esperar? X.Y.

– Estamos em anos difíceis e com fatores muito complexos. Não podemos prever que o comércio vá recuperar rapidament­e. O Governo Central tem vindo a realizar reformas, também no sector comercial. Tomando como exemplo o comércio entre a China e os países de língua portuguesa, nos últimos dois anos sofremos uma redução, mas a tendência está a melhorar um pouco. Nos dois primeiros meses tivemos um cresciment­o, tanto no volume global, como nas importaçõe­s e exportaçõe­s. Pelo menos, este ano vamos ter melhoras. Mas o otimismo é cauteloso. - Em junho, realiza-se o Encontro dos Empresário­s da China e dos Países de Língua Portuguesa em Cabo Verde. O que se espera desta reunião? X.Y.

– Este ano vamos realizar o encontro na cidade da Praia. Esperamos a participaç­ão de entidades dos diferentes países de língua portuguesa. Cabo Verde está a convidar alguns dos seus vizinhos. Queremos que os empresário­s encontrem oportunida­des de negócios e conheçam melhor a situação de cada país.

O business matching é uma parte do nosso trabalho, uma parte muito concreta das tarefas do Fórum. Mas este é um organismo que aplica as metas fixadas pelos ministros durante as conferênci­as ministeria­is. Esta é a nossa principal tarefa, levar à concretiza­ção desses objetivos.

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私繡뜩 MARIA CAETANO

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