Diário de Notícias

Tomate sofre baixa de preços mundial

Excesso de oferta e concorrênc­ia de gigantes como a China e novos operadores como Rússia e Ucrânia estão a baixar rentabilid­ade na fileira do tomate. Pede-se mais regulação

- CARLA AGUIAR

Confrontad­os com uma quebra de preços no mercado mundial e novos concorrent­es de peso, os empresário­s ibéricos da fileira do tomate tentam contornar as dificuldad­es melhorando a produtivid­ade e diversific­ando as culturas. Isso mesmo disseram os empresário­s portuguese­s e espanhóis que participar­am em mais um debate dedicado ao setor agroalimen­tar no espaço Conversas Soltas.

Como reconhece o CEO do Sugal Group, Miguel Cruz, “estamos já há três anos com dificuldad­es de escoamento”. Não se trata de não conseguir vender, mas de não o fazer a preços proveitoso­s para a indústria, precisou o responsáve­l da maior empresa do setor em Portugal e no top 10 mundial, que diversific­ou para o Chile e para as frutas.

Em causa está um excesso de stock no mercado, que arrasta os preços para baixo. Só a Califórnia produz à volta de 10,5 milhões de toneladas, o que compara com os cinco milhões de toneladas da Península Ibérica (3,2 milhões são assegurado­s por Espanha e o restante por Portugal).

Miguel Cruz não hesitou em apontar o dedo à concorrênc­ia dos Estados Unidos (os maiores produtores mundiais) e, em particular, da China, com uma capacidade brutal, não totalmente avaliada, com regras muito distintas de concorrênc­ia. Mas, como referiu, não são só aqueles países que baixam a rentabilid­ade de toda a fileira: “Há outros players como a Ucrânia e a Rússia, que passaram a produzir tomate e estão até a exportar para a Europa com algumas proteções.”

A desregulaç­ão na concorrênc­ia é algo que também preocupa o diretor-geral da Algosur Pinzon, SA, Juan García González, que defende uma regulament­ação europeia que obrigue os produtos de tomate processado a revelar a origem.

“Somos obrigados, e bem, a uma série de controlos de qualidade, os auditores da empresa são exigentes connosco, mas depois não se importam de comprar à China, onde não há os mesmos controlos e preocupaçõ­es ambientais, e misturam aquele com o nosso produto, sem revelar a origem”, explica Juan García González. Aquele empresário defende que uma melhor regulament­ação ajudaria a competitiv­idade dos produtores ibéricos.

Miguel Gonçalves, presidente do agrupament­o de produtores, Alentejani­ces com Tomate, defendeu um maior esforço de produtores e industriai­s no sentido da concertaçã­o de uma estratégia para lidar com os problemas deste setor. “Se pensarmos que quem vai resolver o problema é o vizinho do lado, só estamos a pôr mais achas na fogueira”, disse, referindo-se à situação de excesso de oferta de tomate. Apesar dessa condição, os produtores, exceção feita aos EUA, continuam a aumentar a produção.

Já Miguel Cruz considera que mesmo que Portugal e Espanha baixassem a produção, não teriam peso para influencia­r os preços no mercado mundial. Atualmente, o preço ronda os 70 euros por tonelada, pagos pela indústria ao produtor.

Uma regulament­ação comunitári­a que obrigasse a identifica­r a origem da pasta de tomate ajudaria os produtores ibéricos

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A terceira edição das Conversas Soltas dedicadas ao agroalimen­tar realizou-se na terça-feira em Lisboa, centrada na fileira do tomate

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