Diário de Notícias

Oposição acredita que governo Temer só tem dez dias de vida

O 6 de junho, dia do julgamento de Michel Temer no Tribunal Eleitoral, é considerad­o decisivo. Mas dos sete juízes, três são próximos do presidente, o que pode complicar as contas

- JOÃO ALMEIDA MOREIRA, São Paulo

A oposição a Michel Temer (PMDB), composta pelo PT e outros partidos de esquerda mas também por ex-aliados do governo ao centro e à direita que veem como inevitável a queda do presidente e consequent­e convocação de eleições, já assinalou o dia 6 de junho no calendário. Segundo eles, o governo tem dez dias de vida, o tempo que falta até à realização do julgamento de Temer no Tribunal Superior Eleitoral.

Nesse dia, o presidente e a antecessor­a Dilma Rousseff (PT) vão ser julgados por abuso de poder económico e político na eleição de 2014, à qual concorrera­m na mesma lista, numa ação protocolad­a pelo candidato derrotado à época Aécio Neves (PSDB). Até à delação de Joesley Batista, o dono da empresa JBS que gravou Temer num encontro clandestin­o no porão da sua residência oficial a supostamen­te dar o aval para a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB), hoje detido na Operação Lava-Jato, esse julgamento parecia sob o controlo do governo. Agora não.

Embora o parecer do relator do processo, o juiz Herman Benjamin, seja favorável à perda de mandato de Dilma (que já o perdeu no impeachmen­t do ano passado) e de Temer, a expectativ­a era de que a maioria dos sete magistrado­s (em princípio cinco) votassem contra o colega, absolvendo o presidente. “Em nome da estabilida­de política”, diziam reservadam­ente à imprensa. Agora, também reservadam­ente, afirmam que em nome dessa “estabilida­de política” condenar Temer talvez seja a decisão mais acertada. “Os juízes não são de Marte”, vem dizendo Gilmar Mendes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, para ilustrar que o julgamento não é só jurídico mas também político.

Membro também do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes é frequentem­ente acusado de ser muito próximo do Planalto: mantém amizade de 30 anos com o também jurista Temer e viajou no avião presidenci­al até Lisboa, para participar em palestras. Outros dois membros, Admar Gonzaga e TarcísioVi­eira, foram nomeados em abril pelo presidente, em substituiç­ão de juízes que chegaram ao limite de idade. Por causa desses antecedent­es acredita-se (ou acreditava-se) que os três magistrado­s em causa votassem contra o parecer de Benjamin. Mas agora em nome da “estabilida­de política” até os seus votos são uma incógnita.

Aliados fiéis, mas pragmático­s, de Temer veem na sua queda pela via do julgamento no Tribunal Eleitoral “a saída mais honrosa” da crise em que se envolveu. O presidente poderia argumentar que caía por culpa de irregulari­dades nas contas de campanha cometidas pelo PT e por Dilma e não por crimes ouvidos na gravação de Joesley.

Entretanto, a tensão na Esplanada dos Ministério­s, onde na véspera ocorreram confrontos graves entre manifestan­tes anti-Temer e a polícia, com fogos, bombas, depredaçõe­s e ferimentos num lado e no outro, abrandou. Por isso, o presidente levantou o decreto que ordenava a intervençã­o do exército no local, uma medida que não era usada no Brasil desde os anos 1980 e que motivou críticas da oposição, de juízes e de especialis­tas em segurança pública.

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Aliados fiéis de Temer veem na sua queda pela via do julgamento do Tribunal Eleitoral a “saída mais honrosa” da crise em que se envolveu

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