Diário de Notícias

Função pública em risco de perder mais 9% até 2021

Sindicatos recusam novo congelamen­to das remuneraçõ­es e exigem aumentos acima da inflação já em 2018. Poder de compra caiu mais de 11% desde o início da década

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LUCÍLIA TIAGO Os sindicatos da função pública vão aumentar a pressão sobre o governo para que haja aumentos salariais já em 2018 e acima da inflação. Se o congelamen­to se mantiver no horizonte do mais recente Programa de Estabilida­de, que dura até 2021, a perda de poder de compra ascenderá a 8,9%, que se somariam à quebra de mais de 11% desde o início desta década.

Observando um calendário pouco comum, a Federação dos Sindicatos da Administra­ção Pública (Fesap) decidiu começar ontem a sinalizar que para 2018 quer aumentos de 2,5%. “Como os serviços públicos devem ter os orçalhes mentos fechados até agosto, entendemos que devíamos colocar já as nossas exigências em cima da mesa para que acomodem subidas de salários e não apenas o reforço de alguns rendimento­s por via do descongela­mento das carreiras”, disse ao DN/Dinheiro Vivo José Abraão, secretário-geral da Fesap.

A exigência de aumentos salariais é presença assídua nas propostas reivindica­tivas dos sindicatos, mas desde 2010 que os trabalhado­res da administra­ção pública não têm aumentos, o que, nas contas de Eugénio Rosa, economista da CGTP, faz que tenham acumulado perdas de rendimento reais superiores a 11%. O valor é ainda maior se lhe for adicionand­o o agravament­o do IRS de 2013, que retirou mais 2%a 3%. “Muitos funcionári­os públicos chegaram a outubro de 2016 [mês em que o corte salarial ficou totalmente revertido] a receber menos do que recebiam em 2010 por causa do agravament­o do IRS”, sublinha.

Esta situação, somada ao atual estado da economia (com melhores perspetiva­s de cresciment­o, saída do procedimen­to por défices excessivos e redução do desemprego), antecipa um acentuar do braço-de-ferro entre o governo e os sindicatos da função pública na concretiza­ção dos aumentos salariais. “Para a Frente Comum é um ponto de honra. Não abdicamos nem podemos abdicar de aumentos dos salários e é grave que o Programa de Estabilida­de não preveja aumentos até 2021”, avisa Ana Avoila, que incluiu esta questão entre os motivos que levaram esta federação a convocar para hoje uma greve da função pública.

O congelamen­to salarial tem impacto no dia-a-dia dos trabalhado­res, refere, mas não se fica por aqui, já que faz que as pessoas se reformem com pensões mais baixas.

O Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE), por seu lado, exigiu para 2017 um aumento salarial da função pública em linha com a inflação e este será também o patamar mínimo para o que vier a ser reivindica­do para 2018. “Estamos ainda em processo de negociaçõe­s sobre o descongela­mento de carreiras e este processo condiciona­rá o resto”, salienta a presidente do STE. Esse “resto” correspond­erá ao valor de aumento que será definido mais à frente.

No Programa de Estabilida­de que entregou em Bruxelas (para o horizonte 2017-2021), o governo estima que a despesa pública com pessoal aumente 5,1% ao longo destes cinco anos. Esta evolução incorpora a estabiliza­ção do emprego público a partir de 2020 (até aí manter-se-á o condiciona­mento nas admissões) e o descongela­mento progressiv­o das carreiras e remuneraçõ­es.

Este descongela­mento vai agora começar a ser negociado com os sindicatos (Fesap e STE) que assinaram um acordo de calendariz­ação das matérias negociais com o governo, mas ambas as estruturas sindicais recusam a ideia de que os ganhos de rendimento­s dos funcionári­os públicos se possam ficar por aqui. Até porque, salienta José Abraão, não há garantias de que todos os trabalhado­res estejam em condições de progredir.

O governo prevê ainda que até 2021 as despesas com pessoal contribuam com o equivalent­e a 1,1% do PIB para a consolidaç­ão orçamental, o que leva também os dirigentes sindicais a desconfiar que as contas foram feitas à boleia de novos congelamen­tos salariais. “Havendo ganhos de produtivid­ade, como o Programa de Estabilida­de assinala, não faz sentido que os funcionári­os públicos continuem a pagar a fatura da crise e da consolidaç­ão das contas”, afirma José Abraão

“Não podemos dizer às pessoas que aguardem mais quatro anos”, precisou o secretário-geral da Fesap, acrescenta­ndo que esta estrutura sindical “considera muito importante que o acordo para a negociação coletiva na administra­ção pública seja cumprido. E avisa que se este processo negocial travou a adesão da Fesap à greve marcada para hoje, não afasta a convocação de uma greve. “O recurso a uma greve na função pública estará sempre em cima da mesa.”

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Greve › O dia-a-dia de milhares de portuguese­s irá hoje ter de ser ajustado em função da greve geral da função pública que a Frente Comum (afeta à CGTP) marcou para esta sexta-feira. Estima-se que os serviços relacionad­os com a saúde, estabeleci­mentos...

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