O peditório de Trump na sua primeira cimeira da NATO
Presidente americano exigiu aos aliados que cumpram meta dos 2% do PIB em despesa militar num tom “muito direto” que causou surpresa e até desconforto nos outros líderes
Os 28 Estados membros da NATO inauguraram ontem o novo quartel-general em Bruxelas, numa cerimónia carregada de um simbolismo quebrado apenas pelo pragmatismo de Donald Trump. O tom “muito direto” com que pediu dinheiro e teceu críticas aos “23 países” que não cumprem as suas “obrigações financeiras” contrastou com tudo o resto.
“23 dos 28 dos países membros ainda não estão a pagar o que deveriam e o que é suposto pagarem para a sua Defesa. Isto não é justo para os cidadãos e para os contribuintes dos Estados Unidos”, comentou Trump, criticando que “algumas destas nações devem enormes quantidades de dinheiro dos últimos anos”.
“Os membros da Aliança têm finalmente de contribuir com a sua quota-parte justa e cumprir as suas obrigações financeiras”, disse, frisando que sobre este tópico “tem sido muito direto com o secretário-geral [Jens] Stoltenberg”. Trump tem insistido no gasto de 2% do PIB em defesa, um valor com que a NATO se comprometeu mas que só EUA, Reino Unido, Polónia, Grécia e Estónia cumprem.
As palavras de Trump, no momento solene da inauguração de um monumento composto por dois pedaços do Muro de Berlim e os restos de ferro retorcido de uma das Torres Gémeas do 11 de Setembro, pareceram causar surpresa e até algum desconforto nos líderes.
A chanceler alemã foi uma das que não conteve o sorriso ao ouvir Trump classificar o monumento como “dois artefactos residem agora aqui juntos muito próximo, na nova sede da Aliança Atlântica”.
“E eu não perguntei uma única vez quanto é que as novas instalações custaram. Recuso-me a fazer isso. Mas são lindos”, disse o norte-americano com inusitada ironia, referindo-se indiretamente aos custos de 1100 milhões de dólares do novo quartel-general.
A chanceler alemã, criada na Alemanha de Leste, tinha acabado de evocar o significado da queda de um muro que lhe marcou “grande parte da vida”, passada “do outro lado”. Mas Trump insistiu antes para que os outros membros da NATO paguem a própria defesa, para que “no futuro possa incluir um foco enorme no terrorismo e nas migrações, bem como nas ameaças da Rússia e nas fronteiras a leste e a sul”.
O primeiro-ministro português disse na cimeira que “Portugal honrava todos os compromissos assumidos e obrigações internacionais” e o governo irá “definir” até final do ano de que forma Portugal poderá atingir a metade dos 2%. Foi o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, que transmitiu aos jornalistas a mensagem do líder do governo, uma vez que António Costa escusou-se a falar no final da cimeira.
Na declaração de fecho, o secretário-geral, Jens Stoltenberg considerou “absolutamente possível ter uma mensagem ambiciosa sobre os gastos na defesa e ao mesmo tempo ter uma mensagem positiva. Porque a NATO está a cumprir”. “Continuamos a ter um grande caminho a percorrer. Muito ainda falta. Mas é extremamente importante, depois de anos de declínio da despesa militar, na Europa e no Canadá, invertemos a trajetória em 2015, travámos os cortes e em 2016 tivemos um aumento significativo”, justificou.
Num plano de “solidariedade” entre Estados membros, Stoltenberg considerou que o artigo 5.º é “a espinha dorsal” da NATO e, a falar diretamente para o presidente norte-americano, lembrou-o de que “a primeira vez” que a Aliança evocou a artigo quinto foi após os ataques do 11 de Setembro.
“Um por todos e todos por um. Centenas de milhares de soldados europeus e canadianos serviram ombro a ombro com as tropas americanas no Afeganistão, durante mais de uma década, para garantir que nunca mais se tornaria um paraíso para os terroristas internacionais”, afirmou o norueguês, considerando que é a “solidariedade que mantém as nações seguras”.
De Bruxelas, onde passou apenas 29 horas, depois de passagens pela Arábia Saudita, Israel, territórios palestinianos e Vaticano, Donald Trump seguiu para a Sicília, onde hoje participa na sua primeira cimeira do G7.