Britânicos dizem ter feito detenções “significativas”, mas deixaram de partilhar pormenores com aliados norte-americanos
SUSANA SALVADOR O minuto de silêncio de homenagem aos 22 mortos do atentado de Manchester acabou ontem com a multidão na Praça de St. Ann a cantar Don’t Look Back In Anger (não olhes para trás com raiva), do grupo local Oasis. Enquanto a cidade promete seguir em frente e manter-se unida face à tragédia, as autoridades dizem ter feito detenções “significativas” para a investigação. Mas os pormenores não foram partilhados com os aliados norte-americanos, estando os britânicos irritados com as fugas de informação. O presidente dos EUA, Donald Trump, ordenou um inquérito.
Oito pessoas continuam presas (duas novas detenções ontem de manhã), entre as quais o irmão mais velho de Salman Abedi, o alegado bombista suicida de 22 anos. “As detenções que fizemos são significativas e as buscas iniciais revelaram itens que acreditamos serem muito importantes para a investigação”, disse o chefe da polícia da região de Grande Manchester, Ian Hopkins. Na Líbia, o irmão mais novo e o pai de Abedi também foram detidos, o primeiro acusado de preparar um ataque em Tripoli, assim como de ligações ao Estado Islâmico. Segundo as autoridades líbias, o irmão conhecia os planos de Abedi, que ligou à mãe 15 minutos antes do ataque a pedir desculpa.
Os britânicos não ficaram satisfeitos de ver pormenores da investigação que tinham contado aos aliados norte-americanas acabarem nos jornais e resolveram deixar de partilhar informação sobre Manchester. “Vou deixar claro ao presidente Trump que as informações partilhadas entre as nossas agências de segurança têm de continuar seguras, disse a primeira-ministra britânica, Theresa May, depois de mais uma reunião Cobra (equipa de emergência do governo).
Antes da cimeira da NATO em Bruxelas, o presidente dos EUA condenou a fuga de informação “que representa uma grave ameaça à nossa segurança nacional” e anunciou ter ordenado uma investigação para identificar os responsáveis. O secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, fará hoje uma visita oficial ao Reino Unido. O The New
, que na véspera divulgou imagens e pormenores da bomba, defendeu a publicação da informação dizendo que não desrespeitava as vítimas. dos Representantes dos EUA, Mike McCaul, revelou que a bomba foi fabricada com o mesmo explosivo usado nos atentados de Paris e Bruxelas. Trata-se do TATP, apelidado de “mãe de Satanás”, que por ser de fácil fabrico com materiais comuns é o explosivo de eleição do Estado Islâmico (que reivindicou o ataque). As autoridades investigam se Abedi, que cresceu em Manchester mas cujos pais são de origem líbia, tem ligações a redes terroristas na Europa e Norte de África.
Segundo o The Guardian, um dos elementos em investigação é se há alguma ligação a Mohamed Abrini, o “homem do chapéu” filmado no Aeroporto de Bruxelas junto aos dois bombistas suicidas. Abrini, detido desde abril de 2016, visitou Manchester em 2015. As autoridades alemãs confirmaram entretanto que Abedi viajou para Düsseldorf quatro dias antes do ataque. Fontes disseram à CNN que Abedi terá também viajado até à Síria para receber treino do Estado Islâmico.
Theresa May disse entretanto que o nível de alerta do Reino Unido vai continuar no “crítico”, que significa que um novo ataque é iminente. Milhares de soldados foram destacados para patrulhar as ruas e, pela primeira vez, há polícias armados nos comboios a nível nacional. Ontem, a rainha Isabel II visitou algumas das jovens vítimas do atentado num hospital de Manchester. Cinco menores e cinco adultos continuam internados em estado grave, de acordo com as autoridades de saúde.
Ekathimerini,