Diário de Notícias

Taça América. Ganha a equipa que menos molhar o barco

Começa hoje nas Bermudas a 35.ª edição do mais antigo troféu desportivo do mundo. Cinco equipas tentam roubar a taça ao Oracle Team USA

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JOÃO PEDRO HENRIQUES Para bolsos nacionais, mesmo abastados, são impensávei­s os orçamentos de cada uma das seis equipas em competição na 35.ª edição da Taça América – uma prova que nasceu em 1851, meio século antes de se iniciarem as Olimpíadas modernas, o que faz deste o troféu mais antigo do mundo.

O orçamento mais curtinho, segundo contou há semanas um enviado do Público, é o do Groupama Team France, equipa com o francês Franck Cammas a timoneiro: 30 milhões de euros. Depois os valores vão subindo até aos astronómic­os 135 milhões da Land Rover BAR, do britânico Ben Ainslie, uma lenda da vela olímpica (quatro medalhas de ouro e uma de prata).

Estranhame­nte, a diferença imensa de orçamento entre estas duas equipas não parece fazer muita diferença no desempenho desportivo. A avaliar pelas regatas de treino, o Groupama Team France e a Land Rover BAR são as equipas pior colocadas para roubar o troféu a quem o detém desde 2010, o Oracle Team USA, propriedad­e do multibilio­nário Larry Ellison, o sétimo homem mais rico do mundo. O australian­o James Spithill, já vencedor em 2010 e 2013, continua ao leme. Os dólares são norte-americanos, o patrão também – mas não há um único velejador dos EUA a bordo. E por problemas com as autoridade­s locais, a prova teve de deixar os EUA (São Francisco), onde decorreu em 2013, mudando-se para um paraíso ultramarin­o britânico no Atlântico, as Bermudas.

Em analogias automóveis, a Taça América é a Fórmula 1 da vela, sendo aVolvo Ocean Race o equivalent­e ao Dakar.Vela de velocidade, regatas de curta duração (20, 30 minutos), em formato match racing (um contra um). Enquanto detentor do troféu, o Oracle Team USA já está na final (o que lhe dá também a prerrogati­va de definir todas as regras do jogo, começando no tipo de barco e acabando na localizaçã­o do campo da “batalha”). O que hoje começa são as corridas que selecionar­ão o challenger final do detentor do troféu. Dentro de um mês os vencedores erguerão a taça.

Às duas equipas já referidas – Groupama e Land Rover BAR – junta-se o Emirates Team New Zealand , que procura vingar-se da humilhante derrota de 2013 (depois de estar a vencer por 8-1 perdeu para o Oracle Team USA por 8-9). O skipper protagonis­ta do desaire, Dean Barker, neozelandê­s, desempenha agora a função noutra das equipas presentes nas Bermudas, Soft Bank Team Japan. Nas regatas de treino, tem mostrado um perfil vencedor mas verdadeira­mente imbatível tem sido a equipa sueca Artemis, com o australian­o Outteridge ao leme.

Em 2013, o mundo da vela espantou-se quando viu pela primeira vez a prova ser disputada por catamarãs de 22 metros que conseguiam planar sobre a baía de São Francisco graças a patilhões em forma de J invertido (foils). Estes, num efeito semelhante na água aos do flaps dos aviões no ar, içam os cascos para fora de água, reduzindo assim o atrito e com isso aumentando-lhes brutalment­e a velocidade (calcula-se que pode ir aos 50 nós, ou seja, 92,6 km/h). Mas se então isso quase só se conseguia com vento favorável, agora já vai sendo possível também à bolina. Tudo indica que, como já disse Spithill, vencerá quem conseguir evitar que o barco pouse na água. Os barcos são quase todos iguais mas nos foils são permitidas diferenças.

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