Diário de Notícias

LISBOA NA SEGUNDA GUERRA OU UM PAÍS QUE MARCA

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Juan Marsé prefere Antunes

› O escritor Juan Marsé é dos que constam sempre na lista dos nobelizáve­is. E um livro passado em Portugal? “Se o caso é desenvolve­r uma história em Portugal, isso não. Nem sequer alguma vez pensei no assunto! As minhas vivências em Portugal são escassas e insuficien­tes, apesar de ter visitado o país em diversas ocasiões, de modo a extrair delas um assunto literário e convertê-lo num romance.” Prefere ser sincero: “É melhor ler os romances do meu amigo António Lobo Antunes, que sabe de Portugal e das suas gentes muito mais do que eu.”

Jaime Moro muito atraído

› O espanhol autor de um calhamaço sobre o imperador D. Pedro do Brasil não se encolhe: “Sempre me interessou a cultura portuguesa e tudo o que diz respeito ao vosso país, prova disso é o livro sobre D. Pedro que é também um romance sobre Portugal.” Acrescenta que “apesar da proximidad­e, a história e a cultura portuguesa­s são um mistério para a enorme maioria dos espanhóis”. Isto não evita que no seu próximo livro parte da ação se verifique em Lisboa durante a Segunda Guerra Mundial: “Sempre que for possível, localizare­i os meus livros em Portugal porque me permitem o prazer de investigar in situ.”

Maria Dueñas adorou

› Autora de um dos maiores best-sellers espanhóis deste século, Maria Dueñas não precisa de fugir à questão: “Já localizei em Portugal uma parte muito interessan­te do meu primeiro livro,

O Tempo entre Costuras. Passava-se em 1940 e a minha protagonis­ta fez uma viagem entre Madrid e Lisboa no lendário comboio Lusitânia Expresso. Depois, instalou-se no Hotel Palácio do Estoril, eé a partir daí que o romance começa a desenvolve­r toda uma subtrama com cerca de cem páginas em diversos cenários do país e com numerosos personagen­s portuguese­s.” Dueñas recorda-se bem de ter escrito sobre o Casino do Estoril, usar a Marginal, as lojas do Chiado e da Baixa, bem como personagen­s a percorrere­m as ruas da Lapa e da Avenida da Liberdade, ou a tomar café em A Brasileira: “Tenho personagen­s que se chamam Manuel da Silva, João ou Beatriz Oliveira.” Não deixa de referir que a série televisiva baseada neste romance pela cadeia Antena 3 foi rodada nestes cenários que refere: “Obrigou a levar até Lisboa uma equipa numerosa de profission­ais e atores, bem como utilizar bastantes atores e atrizes portuguese­s para que ficasse tudo na perfeição.”

Jordi Llobregat e o Porto

› O autor Jordi Llobregat tem tido bastante sucesso nesta década com os seus livros, mas Lisboa e Porto – faz questão de referir esta última cidade –, que já visitou várias vezes, nunca foram cenário de um dos seus livros: “Gosto destas cidades e creio que apreciaria usá-las num livro em algum momento da minha carreira. Sem dúvida que são cenários perfeitos para contar uma boa história.” Explica, contudo, que mantém na sua memória bem presentes “algumas sensações, imagens e recordaçõe­s que me obrigaram a revisitar o país e que se enquadrari­am muito bem no meu estilo de escrita”.

Jesús Carrasco não ignora

› O escritor espanhol já esteve em Portugal por mais de uma vez, mas é sincero e garante que nunca lhe passou pela cabeça escrever um romance integralme­n-

te passado em Portugal: “Mas é uma ideia que agora me parece muito boa porque tenho um grande amor pelo vosso país.” No entanto, não deixa de referir que o seu segundo romance, A Terra Que Pisamos, que se passa na Estremadur­a não ignora o país: “Aí cito frequentem­ente Olivença e Portugal.”

Rosa Montero aguarda

› A escritora Rosa Montero começa por dizer que “é muito possível que Portugal apareça um dia destes num meu livro porque é um lugar importante na minha vida”. E é verdade, pois Montero comprou um apartament­o em Cascais e vive lá uma grande parte do ano, local onde já escreveu grande parte dos últimos livros. No entanto, justifica a ausência de Portugal na sua obra: “Um autor não escolhe as histórias que conta, são elas que nos escolhem. Deste modo, localizar um romance em Portugal tem de ser uma situação que surja naturalmen­te, emergir por si só e do meu inconscien­te.” Será possível isso acontecer? Rosa Montero não nega a possibilid­ade e afirma que “é bastante possível” pois o “vosso país faz parte de mim e já me marcou muito”.

Eduardo Mendonza esquece

› Quando se questiona sobre a hipótese de Eduardo Mendoza escrever um livro em que o nosso país surja, o que faz é sorrir. Depois explica: “Na verdade não sei se o faria pois nunca pensei escrever um livro sobre Portugal.” Confessa, no entanto, que é um país “que me atrai e intriga porque parece complexo e não é fácil de compreende­r apesar de o aparentar”. Elogia: “É bonito, as pessoas são agradáveis, a comida é boa e os amigos portuguese­s sempre contam coisas que me intrigam.” Não esquece o seu compatriot­a Miguel de Unamuno, que “escreveu coisas terríveis sobre Portugal e também sobre todo o mundo”. Eduardo Mendonza não fecha a porta: “É um cenário muito interessan­te para um romance, isso vê-se pelos romances portuguese­s que já li.” Também não se recorda de ter construído um personagem português em qualquer dos seus romances, se bem que hesite na resposta: “Creio que não, talvez haja um português porque fui muito ao vosso país e posso ter-me inspirado devido a brincadeir­as com amigos.”

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