“O ministro não escolhe escritores que vão à Feira”
Porquê Portugal em destaque na Feira do Livro de Madrid? É um exemplo da ação cultural externa entre dois ministérios, Cultura e Negócios Estrangeiros, numa iniciativa da Embaixada portuguesa em Madrid. É um contraponto à falta de apoio à edição de autores portugueses no estrangeiro? Não é isso que acontece pois apoiamos imenso as edições no estrangeiro. Basta viver lá e abrir um livro traduzido para encontrar a referência ao apoio na tradução e edição. Com exceção de dois ou três nomes que já não precisam de apoio para serem editados, os restantes têm apoio. Tem sido sempre assim. Portugal e Espanha estão de costas voltadas na literatura... Não é verdade. Cada vez há mais traduções em ambos os países e eu próprio fiquei espantado com o número de traduções de obras portuguesas em Espanha. Mas os autores de ambos os países desconhecem-se a nível das suas obras? No caso dos poetas não é assim, no dos romances creio que poderá acontecer por razões pessoais. Mas o conhecimento em Espanha da literatura portuguesa não é escasso, não há poeta espanhol que não conheça Eugénio de Andrade posso-o garantir. Entre as duas poesias há grande comunicação e que a literatura portuguesa é reconhecida não há dúvida, onde existem estudiosos e grandes conhecedores de nossa literatura. Qual foi o critério dos convites aos autores que vão a Madrid? A escolha foi feita pelos organizadores e não pelo ministério. Estão presentes os que puderam ou não recusaram. Considero a escolha representativa, mas não fui eu que a fiz. O ministro não escolhe os escritores que vão à Feira do Livro de Madrid. Eu próprio fui algumas vezes convidado e muitas outras não. Não seria normal existir uma “literatura ibérica”? A literatura é geral e trata de problemas universais a partir de um enraizamento local e particular. A literatura não é um caderno de encargos, como alguém disse.