A América grande precisa da NATO
Em tempos, Donald Trump classificou a NATO de obsoleta. Entretanto mudou de opinião e até viajou para Bruxelas, onde participou na inauguração da nova sede da organização e assumiu o seu lugar ao lado dos outros 27 líderes na cimeira. A prioridade agora para o presidente americano é garantir que a NATO, que passou a ver como útil, se envolve no combate ao ISIS e que todos os países respeitam o compromisso dos 2% do PIB em despesas militares.
A primeira prioridade teve já resposta positiva do secretário-geral, o norueguês Jens Stoltenberg, se bem que a organização vai ter todas as cautelas para não se deixar envolver diretamente no conflito sírio, como fez no Afeganistão e na Líbia. Já a segunda prioridade terá mais dificuldade em ser concretizada, apesar da dureza do discurso de Trump: além dos Estados Unidos, só Reino Unido, Polónia, Grécia e Estónia já cumprem a regra dos 2%, os restantes estão a distâncias muito diferentes e não é previsível que, por exemplo, um país como a Alemanha de repente desvie verbas gigantes para Defesa. Quando muito, haverá um aumento gradual da percentagem do PIB gasta, tal como Barack Obama exigiu numa anterior cimeira.
Têm razão de queixa os Estados Unidos e por isso ainda com Obama na presidência começou a pressão para os aliados investirem mais, mas isso não significa que uma América irritada possa virar costas à NATO dizendo que esta está obsoleta ou não corresponde às expectativas. É que se a NATO dá garantias de segurança a países como Portugal ou a Estónia, embora com níveis de ameaça muito diferentes entre si, é também um suporte da supremacia global americana e a garantia de que a ascensão de uma outra grande potência não vem pôr em causa a própria segurança dos Estados Unidos. Por isso se explica a sua sobrevivência depois da desagregação da União Soviética (o inimigo que levou à fundação em 1949) e até a sua expansão para leste depois da Guerra Fria.
Há quem chame a Trump um nacionalista jacksoniano, referência ao presidente que tem agora direito a retrato em destaque na Sala Oval, mas o mundo de hoje não é o da primeira metade do século XIX nem os interesses dos Estados Unidos comparáveis. É de acreditar que, uma vez mais, o pragmatismo se imponha ao presidente em detrimento da sua retórica durante a campanha. A América grande que Trump quer precisa da NATO como precisa do Japão e da Coreia do Sul, os dois grandes aliados na Ásia Oriental que também já foram desafiados a gastar (com razão) mais na defesa.