Diário de Notícias

Receita da Segurança Social com o melhor resultado desde 2008

Mais investimen­to público local em ano de eleições, mais consumo a puxar pelo IVA e mais descontos para a Segurança Social à boleia do emprego. IRS automático e maior rapidez no processame­nto de IVA fazem défice subir

- LUÍS REIS RIBEIRO

Execução orçamental. Taxa social única está com o melhor comportame­nto desde o início da crise, com um cresciment­o de 5,3%, e a despesa com os subsídios de desemprego caiu 13,2%.

A melhoria da conjuntura económica começa a refletir-se nas contas públicas, mas o défice público está a expandir-se por causa da maior rapidez nos reembolsos de IRS e de IVA, diz o governo. A meta global para 2017 (défice em contabilid­ade nacional tem de cair para 1,5%) é “exigente” e a subida registada agora no desequilíb­rio orçamental será temporária, garante a tutela de Mário Centeno.

Para as Finanças, a vaga de fundo para a melhoria das contas públicas está a ganhar corpo. Os descontos para a Segurança Social (através da aplicação da taxa social única) registaram no período de janeiro a abril o melhor início de ano desde 2008, com um cresciment­o de 5,3% face a igual período de 2016, indicou ontem o Ministério das Finanças, na síntese sobre a execução orçamental dos primeiros quatro meses do ano. Do outro lado do balanço, os gastos com prestações de desemprego afundaram 13,2%.

A criação de emprego e o impulso no consumo estão a permitir ao governo arrecadar mais dinheiro. Por exemplo, mesmo descontand­o já os reembolsos, “a receita líquida de IVA continua a registar uma melhoria significat­iva, superior ao objetivo anual fixado no Orçamento do Estado (OE)”, tendo subido 2,5% até abril. Até final do ano, o governo conta receber 15,3 mil milhões de euros neste imposto, que é também a sua principal fonte de receita.

Já a principal receita da Segurança Social (os descontos da TSU) também está a evoluir bem, reflexo das condições mais favoráveis no mercado de trabalho. O recorde de nove anos conseguido em abril nesta coleta de contribuiç­ões deve ajudar a atingir a meta anual inscrita no OE, na ordem dos 15,4 mil milhões de euros.

Mário Centeno já sinalizou que deve rever em alta as projeções de cresciment­o deste ano, dizendo que tem informação de que a economia pode crescer mais de 3% no segundo trimestre, depois do “recorde” de 2,8% dos primeiros três meses. No entanto, a execução orçamental ontem divulgada mostra que há um compasso de espera.

O défice público dos primeiros quatro meses deste ano aumentou quase 20% face a igual período do ano passado porque a máquina fiscal está a devolver impostos (reembolsos) mais rapidament­e, designadam­ente no IRS, que agora é “automático”, e no IVA. O défice subiu 314 milhões, para um total de 1,9 mil milhões de euros, em resultado do cresciment­o dos reembolsos fiscais no valor de 530 milhões. “Em resultado do IRS automático, foram reembolsad­os até abril mais 215 milhões de euros, valor cerca de seis vezes superior ao do ano passado no mesmo período. No caso do IVA, o valor reembolsad­o aumentou 289 milhões devido à redução do prazo médio de reembolso”, explicam as Finanças.

Ou seja, o défice aumenta, mas, aparenteme­nte, por bons motivos: no ano passado, por esta altura, não havia tanto dinheiro devolvido aos contribuin­tes. As devoluções do IVA também estão a acontecer mais cedo, tendo o tempo médio de espera pelo retorno deste imposto caído de 24 dias em 2016 para 20 dias, agora.

“A evolução da receita foi prejudicad­a transitori­amente pelo acréscimo em 503 milhões de reembolsos de IRS e de IVA face a igual período do ano passado”, dizem as Finanças. “A adoção de procedimen­tos mais eficientes” nos reembolsos desses dois impostos “asseguram uma devolução mais rápida às empresas e às famílias”, mas “esta alteração não coloca em risco o saldo orçamental, pois o seu efeito dissipar-se-á com o decorrer do ano”.

A receita total subiu 0,2%. Sem o efeito de reembolsos e acertos a nível da coleta de ISP (relativo ao final de 2015, mas que só chegou aos cofres em janeiro de 2016), a receita fiscal estaria a subir 1,5% no período de janeiro a abril de 2017.

A despesa já reflete o ressurgime­nto do investimen­to público (disparou 12,4%), a contrataçã­o de profission­ais de saúde (médicos e enfermeiro­s) e alguns reforços de recursos humanos na educação. O investimen­to público está a subir com mais proeminênc­ia nas administra­ções locais (câmaras e juntas de freguesia). A 1 de outubro há eleições autárquica­s.

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